17 agosto, 2006

Folk em Portugal - Fornada Primavera/Verão


Três álbuns de grupos portugueses - Lúmen (na foto), Arrefole e Ginga - com várias coisas a uni-los: a busca activa das raízes da música tradicional portuguesa e algumas pontes lançadas à folk dita «céltica»; a coincidência de dois deles serem editados pela Açor - a activa editora de Emiliano Toste que tantos álbuns desta área tem lançado - e de todos serem distribuídos pela Megamúsica, distribuidora que representa algumas das maiores editoras estrangeiras de world e de folk em Portugal. E algumas a separá-los: o gosto, o tipo de abordagem e a qualidade final dos resultados. Mas, independentemente das diferenças, uma coisa é certa: ainda bem que estes discos existem.

LÚMEN
«FOGO DANÇANTE»
Ed. de Autor/Megamúsica

Deste lote de álbuns, «Fogo Dançante», dos estreantes Lúmen, é claramente o melhor. Nascidos no Porto, das cinzas dos Roldana Folk (e, mais remotamente, dos Frei Fado d'El Rei), os Lúmen mostram aqui uma música madura apesar do pouco tempo que têm como banda, com algumas versões de temas tradicionais muito bem conseguidas - como o tema galego «Airiños», o tradicional «A Saia da Carolina» e a francesa adaptada «Variando na Sansonette» -; muitos originais bastante interessantes - com destaque para «Donari-Ára» (com uma bandola a levar a canção para sul, na direcção do fado e dos ouds árabes, e uma gaita a levá-la para a Galiza), a celti-prog-fado «A Noite dos Deuses», o divertidíssimo «Ska Celta», que é o que o título diz mas também tem pozinhos de Balcãs, de klezmer e de música turca, o exercício punk-transmontano muito bem conseguido «Escuta a Redondilha» ou o lindíssimo «Dança dos Vasos» -; um excelente domínio dos instrumentos (a gaita-de-foles soa sempre muito, muitíssimo, bem; o acordeão é óptimo; as percussões excelentes...) e muito bom gosto nos arranjos. Elo mais fraco disto tudo: a voz de Cristina Bacelar, que parece não se sentir à vontade nestes temas. (8/10)

ARREFOLE
«VEÍCULO CLIMATIZADO»
Açor/Megamúsica

Não tão bom quanto o dos Lúmen, mas muito interessante é o álbum dos Arrefole, grupo do Porto, facto que é festejado claramente nos interlúdios dos temas: gravações efectuadas num comboio, nas ruas, num barco (rabelo?) ou no metro da Invicta. Fazendo uso de um naipe de instrumentos alargado e de várias proveniências - percussões árabes, africanas, irlandesas e portuguesas, bouzoukis, gaitas, flautas, bandolins, cavaquinhos... -, os Arrefole viajam por uma música portuguesa imaginária que tem as suas raízes numa Idade Média de influência mourisca, judia e dos povos do Norte: os bretões, os escoceses, os leoneses, os irmãos mirandeses e galegos... Apesar de bastante homogéneo, no álbum destacam-se o medley de tradicionais que deu origem a «Barqueiros», o original «Metro-nomo», o «celtibero» «Gutlics», uma sentida homenagem a Júlio Pereira em... «Júlio Pereira» (cuja influência é notória noutros temas, nomeadamente em «Arrebirachula») ou o quase Pascal Comelade «Caixinha de Música». Com uma assinalável variedade tímbrica de tema para tema, a música dos Arrefole só se vai abaixo quando tem que se adaptar às vozes utilizadas (à semelhança do que acontece com os Lúmen), excepto, curiosamente, num bom tema só com vozes, o tradicional minhoto «A Minha Saia Velhinha». (6/10)


GINGA
«CELEBRATIO»
Açor/Megamúsica

Claramente o álbum mais fraco desta fornada, o disco dos conimbricenses Ginga perde-se - demasiadas vezes - naquilo que o folk-rock tem de pior: barragens de guitarras eléctricas despropositadas (e alguns solos de guitar-hero seventies-FM), longos exercícios de rock sinfónico, teclados prog-lounge, uma bateria quadradinha, quadradinha... Tudo isto aplicado a tradicionais mais ou menos óbvios de várias zonas do país («Farrapeira», «Pingacho», «Róró», «Milho Verde», «Este Linho É Mourisco», «Chegadinho», «Tempo da Mocidade», «As Armas do Meu Adufe»...). Há coisas boas no álbum?... Há, claro que há: a concertina não é nada má, a gaita-de-foles e os cavaquinhos (quando aparecem) soam quase sempre bem, o violino do convidado Manuel Rocha (da Brigada Victor Jara) é uma maravilha, há uma canção ou outra que está em bom nível, como «Borboleta Branca» ou «Agora Vou-me Deitar». Mas os momentos mais fracos são demasiados e há mesmo algumas coisas bastante penosas de ouvir como a voz de Isabel Silvestre a correr atrás da banda em «Laurinda». (4/10)

4 comentários:

Anónimo disse...

4 em 10 aos Ginga? vê lá no que te metes, camarada.

abraço

ygg

António Pires disse...

Boa noite camarada!

É a minha opinião sobre o álbum dos Ginga... Uma opinião pessoal, pensada e assinada. Já li críticas que elogiam bastante o álbum «Celebratio» e tenho pena de nunca os ter visto ao vivo...

Vens a Barcarena amanhã ver os Galandum Galundaina?

E, a propósito, o que é que sabes dos Mirandum (de Abílio Topa e do Queijo)?

Grande abraço,

António

Anónimo disse...

È que eles "andam atentos"...

Se estivesse em casa iria certamente ver Galandum. Estou em Santa Maria a ver El Bicho. Que grande concertão... flamenco nas veias com muito funk, trompetes nostálgicos à Beirut e som pesadão quase à Rage Agaist The Machine. Mas sempre muito, muito flamenco.

Estou apaixonado pelo "Primabera" dos Mirandum. Ainda só ouvi três temas. Não sei se vão lançar álbum em breve ou não.

Tens G-mail?

abraço

ygg

António Pires disse...

Olá Ygg...

Estás em Santa Maria?... Que inveja!!!... Diverte-te!

E, sim, se me pudesses enviar esses três temas dos Mirandum seria óptimo... O endereço é pires.ant@gmail.com

Obrigado e um grande abraço,

António