13 novembro, 2006

Cromos Raízes e Antenas IV



Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo IV.1 - Nusrat Fateh Ali Khan



O cantor paquistanês Nusrat Fateh Ali Khan (nascido a 13 de Outubro de 1948, em Faisalabad, Paquistão; falecido a 16 de Agosto de 1997, em Londres, Inglaterra) foi o maior embaixador do qawwali, o canto sagrado dos sufis (um dos ramos do islamismo). Amado no seu país natal e no Ocidente (onde colaborou com gente como Peter Gabriel, Michael Brook ou Eddie Vedder, dos Pearl Jam, para além de ter sido homenageado por Jeff Buckley, no álbum «Live at Sin-é», em que se ouve Buckley dizer «Nusrat é o meu Elvis»), era também muitíssimo admirado na Índia - país «inimigo» do Paquistão -, onde fez duetos com vedetas de Bollywood como Asha Bhosle. Com uma voz potente, incrivelmente bem timbrada e inimitável, Nusrat foi o continuador - apesar de ter dado passos decisivos para a renovação do género - de uma tradição musical que, na sua família, remonta a seis séculos de interpretação de qawwali, seguindo as pisadas do pai, o também respeitadíssimo cantor Ustad Fateh Ali Khan. Deixou inúmeros continuadores, nomeadamente os seus sobrinhos agrupados no Rizwan-Muazzam Qawwali.


Cromo IV.2 - Djembé



O djembé é, provavelmente, um dos mais antigos instrumentos de percussão da humanidade. Com um corpo oco de madeira e coberto por uma pele de bovídeo,, o djembé desenvolveu-se na região ocidental de África, sendo um dos instrumentos mais importantes da música mandinga (juntamente com a kora, o balafon e o n'goni) e, desde há algumas décadas, um instrumento emblemático de toda a música africana em geral e de muita «world music» exterior a África, jazz e até algum rock. A sua invenção é atribuída a antiquíssimos artesãos mandingas (os «numus»), que teriam difundido o djembé por toda a África Ocidental durante o primeiro milénio antes de Cristo. Uma lenda comum a vários povos refere que o djembé contém três almas: a da árvore que cedeu a madeira, a do animal que cedeu a pele e a do homem que o fabricou. Alguns intérpretes importantes de djembé: Mamady Keita, Thione Diop, Abdoulaye Diakite, Babatunde Olatunji e Famoudou Konaté. E um filme que lhe presta justiça: «O Visitante», realizado por Thomas McCarthy.


Cromo IV.3 - Carlos Paredes



Génio absoluto da guitarra portuguesa, Carlos Paredes (nascido em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925; falecido em Lisboa a 23 de Julho de 2004) foi o maior responsável pela emancipação deste instrumento e pela percepção de que a guitarra não tem que ser necessariamente o humilde acompanhante dos cantores de fado. Apesar de antes dele já ter havido, em Lisboa e em Coimbra - onde o pai de Carlos, Artur Paredes, foi um dos pioneiros da autonomização da guitarra portuguesa -, outros músicos a fazer o mesmo movimento, foi Carlos Paredes que deu à guitarra portuguesa uma voz própria, brilhante, inventiva, a um mesmo tempo terna, mágica e revoltada. E apesar de ter gravado com outros músicos (de Charlie Haden a António Victorino d'Almeida e os Madredeus) era sempre sozinho, ou com os seus companheiros mais íntimos, como Fernando Alvim ou Luísa Amaro (a discípula e companheira que agora transporta e reinventa muito do seu legado) que se sentia melhor. Álbuns aconselhados: «Guitarra Portuguesa», «Movimento Perpétuo» e «Espelho de Sons».


Cromo IV.4 - Firewater



Liderados por Tod A. (Tod Ashley, ex-Cop Shoot Cop), os Firewater formaram-se em 1995 e deram um abanão na cena musical nova-iorquina ao destilarem uma música negra e sombria, mas a espaços iluminada - e com que luz! - por sonoridades geralmente estranhas ao rock como a música de cabaret, de circo e de strip-tease, jazz, klezmer, mariachis e blues sangrentos. Com Nick Cave, Tom Waits, Henry Mancini, Lee Hazlewood e Johnny Cash como referências maiores, os Firewater lançaram alguns álbuns - «Get Off The Cross (We Need The Wood For The Fire)», «The Ponzi Scheme», «Psychopharmacology», «The Man on the Burning Tightrope» e «Songs We Should Have Written» -, antes de Tod A. ter partido para a Índia, alegadamente por já não suportar viver no país liderado por George W Bush. O último álbum da banda, «The Golden Hour» (2008), mostra-a num pico de forma absoluto!

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