18 janeiro, 2007

Cromos Raízes e Antenas X



Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)


Cromo X.1 - Os Mutantes


Exemplo maior e pioneiro de como as músicas locais se podem fundir na perfeição com músicas «globais», o movimento brasileiro do tropicalismo (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé...) teve no grupo Os Mutantes a sua expressão mais radical. Os Mutantes nasceram em 1966, em São Paulo, pela mão de Rita Lee (voz), Sérgio Dias (guitarra e voz) e Arnaldo Baptista (baixo, teclados e voz) e cedo se destacaram com a sua mistura de música brasileira com o psicadelismo, o garage, o experimentalismo (inclusive na criação de instrumentos próprios, como as «guitarras de ouro» construídas por Cláudio César). Depois, colaboram com Gilberto Gil, criam espectáculos cénicos completos (entre os Beatles e os Velvet Underground/Andy Warhol o seu coração balança), atiram-se ao rock progressivo, mudam de formação várias vezes... até acabarem em 1978. Agora fazem parte das brumas de uma belíssima lenda; uma lenda que renasceu durante alguns meses para uma digressão internacional em 2006 (com Zélia Duncan no lugar de Rita Lee).


Cromo X.2 - Sandy Denny


Voz inesquecível da folk britânica, Sandy Denny (Alexandra Elene MacLean Denny; nascida a 6 de Janeiro de 1947 e falecida a 21 de Abril de 1978) será para sempre recordada como a cantora da fase de ouro dos Fairport Convention. Em meados dos anos 60 fez parte dos Strawbs e gravou um álbum a solo antes de ingressar nos Fairport Convention, com os quais gravou três álbuns fundamentais da folk britânica. Em 1969 Sandy forma a sua própria banda, Fotheringay, que tem uma existência fugaz, antes de gravar alguns álbuns a solo, com músicos convidados dos... Fairport Convention, banda a que regressa em 1972 para a gravação de um álbum genial, «Rising for the Moon». No interim é o contraponto perfeito de Robert Plant no dueto de «The Battle of Evermore», dos Led Zeppelin. Continua a gravar nos anos 70 mas a sua estrela vai-se apagando - Sandy foi, durante muitos anos, dependente de álcool e drogas duras - até à sua morte.


Cromo X.3 - Bouzouki


Instrumento-símbolo da música tradicional grega - mas adoptado também pela música balcânica e por uma miríade de grupos folk britânicos (principalmente na sua variante irlandesa) e não só... -, o bouzouki é um cordofone com o corpo em forma de pêra e um braço bastante longo. Descendente do alaúde e irmão da bandola e do saz (da Turquia), o bouzouki foi chamado na antiguidade «pandouris» ou «pandourion» e é geralmente considerado o primeiro cordofone conhecido (há documentos do séc. IV A.C. a ele referentes). No séc. XX, o bouzouki fica indelevelmente ligado ao género musical grego por excelência, a rembetika, e chega à fama internacional através do filme «Zorba, O Grego». Mas antes disso, no início do século, foi perseguido porque era associado ao mundo do crime, tendo alguns intérpretes de bouzouki sido presos por tocá-lo.


Cromo X.4 - Hoba Hoba Spirit


Originários de Casablanca, em Marrocos, os Hoba Hoba Spirit são os líderes da «hayha music», género que mistura músicas ocidentais (punk, funk, reggae...) e do norte de África (châabi, rai, gnawa...) com mensagens de paz e tolerância. Os Hoba Hoba Spirit nasceram em 1998, um pouco à imagem do «DIY»: dois amigos, vagamente músicos, o guitarrista e letrista Reda Allali e o percussionista e cantor Aboubakr Zehouani, juntaram-se para fazer música apenas por divertimento, aos quais se juntou depois outro guitarrista, Anouar (irmão de Aboubakr). Mas a história dos Hoba Hoba Spirit só começa a sério em 2002: sem Aboubkar, o duo remanescente (Reda e Anouar) recruta músicos profissionais para o projecto e lança-se à conquista de vários palcos (Marrocos, França, Alemanha...). Escuta aconselhada: «Blad Sziko», álbum de 2005.

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