19 junho, 2007

Vinicio Capossela, La Etruria Criminale Banda e Abnoba - A Música Italiana Que Aí Vem



Três excelentes propostas musicais nascidas em Itália vão passar por Portugal nos próximos tempos para concertos que se esperam, todos eles, de altíssima qualidade: o cantor e compositor Vinicio Capossela (na foto) no MED de Loulé, La Etruria Criminale Banda no FMM de Sines e os Abnoba no Festival Temático de Músicas do Mundo, em Águeda. Muito diferentes entre si, e todos com Itália lá dentro mas também com muitas outras músicas ao redor, aqui fica uma resenha dos seus álbuns mais recentes.


VINICIO CAPOSSELA
«OVUNQUE PROTEGGI»
Atlantic/Warner Music Italia


Vinicio Capossela é um dos mais admiráveis cantautores surgidos em Itália na última vintena de anos. Alemão de nascimento, mas italiano de ascendência e de alma e de vivências, Vinicio fez de Milão a base da sua arte, uma arte em que a palavras e temas se confrontam, sempre, com a realidade envolvente mesmo que recorrendo a temas históricos ou mitológicos (como, neste álbum, as referências à Babilónia, a Tróia, ao Minotauro, ao Coliseu de Roma, à Medusa...), numa linha poética que remete directamente para os filmes de Pasolini e para as road-novels de Jack Kerouac. Musicalmente, a sua arte - e é de arte de se trata, mesmo! - é um mundo aberto de referências e de citações e de invenções. Em «Ovunque Proteggi» (o seu sexto álbum de originais) podemos encontrar fanfarras balcânicas à Bregovic e Kusturica, guitarras elétricas hard-rock, música árabe e coros da Sardenha, balafons mandingas e cha-cha-cha, mergulhos na canção italiana romântica de Adriano Celentano, cabaret e circo e surf music, Tom Waits e bel canto bufo e hinos partigiani e música épica dos peplums e tudo o mais que a imaginação possa alcançar, num delírio constante e absoluto. Na gravação do álbum participaram músicos de variadíssimos lugares de Itália (Sardenha, Sicília, etc...) e do mundo (com destaque para o guitarrista Marc Ribot, companheiro de Capossela em vários discos). Um monumento. (9/10)


LA ETRURIA CRIMINALE BANDA
«ETRURIA CRIMINALE BANDA»
Etnagigante/V2 Records

Big-band alargadíssima em timbres, sons e músicas, La Etruria Criminale Banda - da qual já tinha falado neste blog a propósito do seu fabuloso concerto na última Womex de Sevilha - é, mais do que uma grande banda (nos variados sentidos que esta expressão possa ter em português), um enorme bando de aventureiros que tem um dedo do pé na música italiana (há aqui tarantelas e outros ritmos e géneros imeditamente reconhecíveis como... italianos) mas os outros todos em muitíssimas outras músicas: o funk, o punk, o hip-hop, vários géneros de jazz (do free ao swing e ao be bop), o reggae, o ska, o tango, o klezmer... E tudo o mais que possa encaixar-se numa formação de fabulosos músicos e cantores (La Etruria Criminale Banda são 15 ou 16 tipos em palco a tocar trompetes - muitas trompetes -, guitarra, tuba, clarinetes, trombone, saxofone, baixo, bateria, percussões, flauta, laptop...; muitos deles também em solos vocais ou coros irresistíveis, incluindo aproximações às vozes de Tuva), e sempre com uma inventividade e criatividade inacreditáveis. Nascidos em Roma, através de uma ideia dos irmãos Giovanni di Cosimo e Nando di Cosimo, La Etruria Criminale Banda é um projecto para ver essencialmente ao vivo mas se se puder deitar a mão a este álbum, o primeiro do grupo, também se fica muito bem servido. (8/10)


ABNOBA
«VAI FACILE»
Dunya Records/Megamúsica


Apesar de se inscreverem num registo mais facilmente identificável com a folk - e depois da explosão de músicas, de estilos e de referências de Vinicio Capossela e de La Etruria Criminale Banda -, não se pense, no entanto, que os Abnoba ficam a perder para os nomes referidos mais acima. Não! Este grupo do norte de Itália - nascido em 2004 da confluência de músicos vindos dos Harmoniraptus, Stygiens e Suriscot Trio - pratica uma excitante fusão de música tradicional italiana (nomeadamente dos Alpes, como em «Tourdion», movido a flauta de pastores) e bretã (o primeiro tema de «Vai Facile» é um tradicional da Bretanha, «Andro») com originais que tanto vão à folk italiana como a outros géneros como o klezmer, a rembetika, a música balcânica, a música dita «celta» ou... o rock, o jazz e o funk; muitas vezes em altíssima velocidade e com piano, clarinete, gaitas-de-foles, a belíssima concertina, low whistle, baixo, bateria, sanfona e inúmeras percussões (percussões árabes e latino-americanas, italianas e africanas...) a entrar em despiques estonteantes e/ou em harmonias belíssimas e inesperadas. Contam as crónicas de quem lá esteve que, o ano passado, no Andanças, os Abnoba deram um concerto inesquecível. Espera-se que desta vez, em Águeda, a recordação também assim permaneça. (8/10)

2 comentários:

FBR disse...

Destes músicos, o único que conheço é Capossela.
Já lá vão uns anos, de uma das minhas idas a Itália (Padova/Venezia)trouxe um dos seus Cd's (L'Indispensabile) com temas como "Ultimo amore", "Marajá" e "Si é spento il sole". Enfim, música bonita. Sons que de imediato me transportaram à minha infância beirã e aos bailes de S. João, e por outro lado à música popular italiana e àquela dos balcãs via Bregovic.
António, pena que as tuas recensões não sejam também publicadas no Público, DN ou Expresso!!!

António Pires disse...

FBR:

Tens razão nas referências ao Capossela! Mas olha que os outros também valem bem a pena!! Da Etruria Criminale Banda já vi dois concertos - um em Sevilha e outro em Sines - e foram os dois muito muito bons! E o Vinicio vi-o em Loulé, também num concerto fabuloso! A despropósito, a «tua» Orchestra di Piazza Vittorio vem ao CCB proximamente...

Ah, quanto à «pena»: estive vinte anos num jornal; não é agora que o «papel» me vai apanhar tão cedo...

Força com o novo E La Nave Va e um grande abraço