02 junho, 2008

Rabih Abou-Khalil e Ricardo Ribeiro - O Fado Encontra a Música Árabe


Independentemente das teorias que se tenham sobre as origens do fado - se veio de África, do Brasil, dos países árabes, da Europa do norte ou de muitas e desconhecidas ondas perdidas em mares e oceanos... -, a verdade é que uma experiência como a de que aqui damos conta hoje é extremamente importante para se tentar perceber as pontes que o fado já teve, ou tem agora ou terá um dia, com outras músicas suas familiares. O álbum que reúne o fadista Ricardo Ribeiro e o mestre do oud Rabih Abou-Khalil (na foto, de Markus Lackinger) sai já esta semana, através da Enja, segundo dá conta uma notícia da agência Lusa que aqui publicamos na íntegra:

«À música do libanês Rabih Abou-Khalil juntou-se pela primeira vez uma voz, a do fadista Ricardo Ribeiro, que escolheu poemas em português de autores como José Luís Gordo, Mário Raínho ou Rui Manuel, originando um disco invulgar.

O projecto começou o ano passado por intermédio do encenador Ricardo Pais que os apresentou, seguiram-se dois espectáculos em Lisboa e no Porto, e esta semana surge o álbum, "Rabih Abou-Khalil em português".

"É um projecto que me enche de orgulho pela satisfação que foi trabalhar com um extraordinário músico, e pela forma como o trabalho fluiu, sem forçar nada, correndo tudo muito naturalmente", disse à Lusa Ricardo Ribeiro.

Pela primeira vez, Abou-Khalil juntou voz à sua música.

Os poemas, todos inéditos, foram propositadamente escolhidos para o projecto, à excepção de "Casa da Mariquinhas", de Silva Tavares, que Alfredo Marceneiro popularizou.

"Escolhi letras de poetas com os quais me identificava, todos os autores são contemporâneos e estão vivos, exceptuando Silva Tavares", disse o fadista.

"Casa da Mariquinhas", "Adolescência perdida", de autoria do fadista António Rocha, "Já não dá como está", de Rui Manuel, e "No mar das tuas pernas", de Tiago Torres da Silva, são os favoritos de Ricardo, de um grupo de 12 temas.

"Na realidade gosto de todos os poemas, por isso os escolhi, mas estes têm um gosto especial", justificou.

"`No mar das tuas pernas` surgiu porque o Rabih queria uma letra erótica, quase pornográfica, como indicava a cadência da sua composição musical", explicou.

"No caso de `Casa da Mariquinhas` que é um poema que permite uma leitura nas entrelinhas, a música de Khalil é muito subtil, com descida nas escalas nessas segundas leituras, e depois um ritmo mais acelerado".

"`Adolescência perdida`, de que gosto muito, mostrei-a ao Rabih, e numa semana, durante as gravações em estúdio, aprendi a música e gravámos", afirmou.

Para o fadista, vencedor de uma Grande Noite do Fado (1998) e detentor de um Prémio Amália Rodrigues Revelação (2005), "há na música de Abou-Khalil laivos de fado e até do cante alentejano, mas não houve qualquer tipo de tentativa de aproximação".

"Claro que está lá fado, porque canto fado, mas procurei desligar-me e corresponder ao registo pretendido, à cadência e ao ritmo", disse.

"Essas reminiscências quer do fado quer do cante são naturais, pois os árabes estiveram 800 anos na Península Ibérica", acrescentou.

Fadista da linha tradicional, habituado ao público das casas de fado e das noites de tertúlia fadista, Ricardo Ribeiro afirmou à Lusa que se sentiu "assustado" com o projecto que lhe parecia "complicado".

"Fiquei assustado, com um músico do calibre do Rabih que nunca tinha juntado voz à sua música, mas depois correu muito bem", disse.

"Na música de Khalil tanto o ritmo, muito forte, como a melodia são muito improvisados e não há uma base harmónica como estou habituado no fado", acrescentou.

O fadista realçou que "intuitivamente" se aproximou da música de cariz árabe e quanto a mudanças de estilo afirma: "Sou eu na mesma, porque afinal é a minha alma que canta".

Com Ricardo Ribeiro (voz) e Rabih Abou-Khalil (alaúde) estão Michel Godard (tuba), Jarrod Cagwin (tambor tradicional árabe) e Luciano Biondini (acordeão).

Mannheim, na Alemanha, e Dudelange, no Luxemburgo, são os dois próximos palcos deste projecto, respectivamente a 06 e 14 de Junho.

Agendados estão já mais de uma dezena de espectáculos na Europa: Vila Nova de Cerveira será a primeira localidade portuguesa a recebê-los, dia 26 de Julho. Dia 04 de Agosto estarão no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e dia 10 do mesmo mês na casa da Música, no Porto».

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