13 março, 2009

Cromos Raízes e Antenas XLVII


Este blog continua hoje a publicação da série «Cromos Raízes e Antenas», constituída por pequenas fichas sobre artistas, grupos, personagens (míticas ou reais), géneros, instrumentos musicais, editoras discográficas, divulgadores, filmes... Tudo isto sem ordem cronológica nem alfabética nem enciclopédica nem com hierarquia de importância nem sujeita a qualquer tipo de actualidade. É vagamente aleatória, randomizada, livre, à vontade do freguês (ou dos fregueses: os leitores deste blog estão todos convidados a enviar sugestões ou, melhor ainda!, as fichas completas de cromos para o espaço de comentários ou para o e-mail pires.ant@gmail.com - a «gerência» agradece; assim como agradece que venham daí acrescentos e correcções às várias entradas). As «carteirinhas» de cromos incluem sempre quatro exemplares, numerados e... coleccionáveis ;)

Cromo XLVII.1 - Billy Bragg


Não são raros os exemplos de punks britânicos que se viraram depois para a folk ou para a «world» - os Pogues, os Chumbawamba e até Joe Strummer (dos Clash) são alguns desses exemplos, entre muitos outros... -, mas Billy Bragg é, sem dúvida, um dos maiores expoentes dessa tendência. Billy Bragg (Stephen William Bragg, nascido a 20 de Dezembro de 1957, nos subúrbios de Londres, Inglaterra) começa a sua carreira em 1977, na banda punk Riff Raff, com a qual não obtém sucesso. Mas em 1981 inicia uma profícua trajectória musical a solo em que os seus extraordinários dotes de cantautor (inspirado pela folk britânica e norte-americana mas sem nunca esquecer o seu passado punk) e o seu activismo político anti-fascista e anti-racista também o levaram a colaborações memoráveis com músicos dos R.E.M., Johnny Marr (The Smiths), Michelle Shocked, Kirsty MacColl ou, mais recentemente, o projecto The Imagined Village. É uma referência incontornável.


Cromo XLVII.2 - Cornershop

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A cantora Sinéad O'Connor teve o seu pico de projecção mediática quando queimou uma fotografia do Papa João Paulo II. E o grupo indo-britânico Cornershop - uma referência às «lojas de esquina» dos imigrantes indianos e paquistaneses em Inglaterra - deram visibilidade à sua música quando queimaram uma foto de Morrissey, depois deste cantor ter assumido ideias racistas (inclusive nas letras de algumas canções). Surgidos em Leicester, Inglaterra, em 1992 - e ainda hoje em actividade -, os Cornershop, desde sempre liderados por Tjinder Singh e Ben Ayres, caracterizam-se por uma fusão consistente de canções infecciosamente pop, algumas electrónicas e referências discretas à música indiana (instrumentos como a sitar, harmonium, dholaki, tamboura e tablas fazem parte do seu «kit» habitual). O seu tema «Brimful of Asha» (de 1997; uma homenagem a Asha Bhosle) e a respectiva remistura de Fatboy Slim vão ficar para sempre na história da world music.


Cromo XLVII.3 - Naftule Brandwein


Ouve-se, agora, Woody Allen a tocar jazz no seu clarinete e sente-se, sem a menor dúvida, que aquele clarinete deve tudo à música klezmer. Ou ouvia-se, antes, o clarinetista Benny Goodman ou o início do «Rhapsody In Blue», de Gershwin, e sentia-se que as bases destas músicas estavam nas suas raízes judaicas. Actualmente não há banda de klezmer que não tenha um clarinete. E, em todas elas, são nítidas as influências do maior clarinetista klezmer de todos os tempos: o lendário Naftule Brandwein. Tendo nascido em Przemyslany (no actual território da Ucrânia), em 1884, no seio de uma família de músicos judeus, emigrou para os Estados Unidos em 1908. Conhecido como «O Rei da Música Judaica», gravou variadíssimos discos de 78 rpm durante os anos 20. E embora a sua carreira tenha decaído desde essa altura e até à sua morte, em 1963, a sua música foi depois recuperada, amada e emulada por todas as novas vagas de músicos klezmer.


Cromo XLVII.4 - Krakabs


As krakabs (ou quaquabou, chkacheks, krakebs e garbag) apresentam-se, ao lado do gimbri (ou guembri, um baixo acústico rectangular), como o instrumento mais emblemático da música gnawa, sendo utilizado por grupos como os Nass Marrakech, Gnawa Impulse ou na banda acompanhante da grande Hasna El-Becharia, entre muitos outros. Também conhecidas como castanholas de metal, as krakabs são o instrumento de percussão fundamental para a criação (e sustentação) dos ritmos transe-hipnóticos do gnawa, género - e também a designação da comunidade sufi que o pratica - do sul de Marrocos, criado pelos descendentes dos escravos da África Ocidental levados para o lado norte do Sahara pelos árabes. Fazendo parte da família dos idiofones, as krakabs são crótalos feitos de ferro, em forma de 8, e o seu som tenta imitar o galope de um cavalo.

6 comentários:

Anónimo disse...

Os Galandum Galundaina também uilizam essas coisas!

Palmeiros disse...

Sim, e chamamos-lhe TCHACALACAS...
ehehehehe
(é uma onomatopeia criada por nós)

António Pires disse...

Anónimo e Paulo:

Tchacalacas perece-me um excelente aportuguesamento ou mirandesamento de karkabs, mesmo sendo uma onomatopeia :)

Um grande abraço...

Chá de Lucia Lima disse...

A 1ª vez que ouvi tocar este instrumento foi em Mértola, aquando do Festival Islâmico e, pelas mãos de Les Boukakes. Ameiiii! Tanto que, fui vê-los novamente em outro festival...

Kandandus :)

António Pires disse...

Lúcia Lima:

Pois, os Boukakes também o usam!! E já estou com saudades do Festival Islâmico!!

Kandandus :)

Túlio Francino disse...

como eu posso conseguir esse instrumento pelo brasil, alguém sabe de algum site? de alguma loja, por favor, estou precisando muito!!!