29 dezembro, 2010

A Música Tradicional É... Para Dançar!


Mais ou menos no seguimento do post anterior (a passagem d'ano bailante em Coimbra), aqui ficam as críticas a três álbuns de estreia de grupos portugueses que põem a música tradicional (a portuguesa mas não só...) a servir de tapete para as danças: Monte Lunai, Omiri (na foto, de Mário Pires/Retorta)e No Mazurka Band. Todas elas foram publicadas originalmente na "Time Out".



Monte Lunai
"In Temporal"
Ed. de Autor

A Pé de Xumbo – com o Andanças mas não só -, o Contagiarte, a Tradballs, o Rodobalho, etc, etc... são os culpados disto tudo. Leia-se: culpados no melhor sentido, o de iniciadores, responsáveis, padrinhos e afins de um movimento cada vez maior, em Portugal, de festivais, grupos – e, claro, os dançarinos – que recuperam as danças tradicionais europeias. E, no lote de melhores grupos deste(s) género(s) estão desde há muitos anos os Monte Lunai. E, mesmo sem se atreverem a inovar por aí além nos arranjos dos temas tradicionais, o grupo lisboeta serve neste primeiro álbum vários ritmos de uma forma fresca e sempre alegre: da chapelloise à mazurca, da muiñeira ao círculo, do nosso “Passo Dobrado” a ritmos do Leste, faz-se aqui uma bela viagem pela Europa, a dançar. ***


Omiri
"Dentro da Matriz"
Ferradura/Compact Records

O fascínio de muitos músicos europeus que vão beber a sua inspiração primeira à tradição, ao mesmo tempo que vão em busca de outros géneros, está cada vez mais espalhado pelas “músicas do mundo”. E, no caso específico de músicos tradicionais igualmente apaixonados pelo... heavy-metal, também não estamos nada mal servidos: dos Fintroll aos Corvus Corax ou à Barbarian Pipe Band. Os Omiri – projecto a solo de Vasco Ribeiro Casais, dos Dazkarieh; ao vivo acompanhado por Joana Negrão e o VJ Tiago Pereira – vão, tal como os próprios Dazkarieh muitas vezes, também por esse caminho: a ritmos, melodias e instrumentos tradicionais juntam-se, quase sempre, uma bela chinfrineira eléctrica e em distorção. Bombom final: o único tema cantado tem a presença da eremita Né Ladeiras. ****


No Mazurka Band
"A-do-Baile, Campaniça e Tamboril"
PédeXumbo

Apesar de ter elementos comuns com Uxu Kalhus, a No Mazurka Band (no layout de quase todo o disco apenas identificada como NMB) marca diferenças fundamentais em relação ao grupo-irmão: na NMB não há cá bateria, guitarras e baixos eléctricos (são só instrumentos tradicionais, portugueses mas não só) e não há cá danças europeias no geral (só ritmos tradicionais portugueses, do Alentejo a Trás-os-Montes, mesmo que alguns deles inspirados em danças... do resto da Europa). Mas, apesar disso, não se pense que este seu disco de estreia é passadista, “nacionalista” ou algo folclórico: os arranjos são sempre inventivos e há até lugar para que uns blues se enfiem brilhantemente num malhão de Águeda ou um drum'n'bass acústico apareça num repasseado, entre muitas outras surpresas. ****

21 dezembro, 2010

Em Coimbra... A Bailar Até 2011


A já tradicional passagem d'ano bailante em Coimbra tem agora mais um capítulo: dias 30 e 31 de Dezembro e dia 1 de Janeiro, o Centro Norton de Matos, em Coimbra, é ocupado por danças europeias (e alguns desvios) noite fora e até já bem dentro de 2011. A "filosofia" e o programa:


"Festival da Passagem d'ano

Preparem-se, passem palavra: 2011 será recebido com mil sorrisos de novo. No centro Norton de Matos, com a Tradballs e o Rodobalho, dança e música não haverá melhor passagem de ano.

Três dias em que o relógio, ironia das ironias, não é dono do tempo, em que o corpo se perde na melodia e adormece na dança. Milhares de sorrisos, centenas de danças e incontáveis minutos de aprendizagem e partilha. Se não foste cativado, vem descobrir a atracção da dança, aprender uma Mazurka encantar uma valsa e sorrir a(o) desconhecido(a).

Ficar a olhar para fogo de artificio: Aborrecido.
Embebedar-se numa discoteca apinhada, barulhenta e escura: Deprimente.
Sorrir a um desconhecido(a) enquanto se aprende mais uma dança sensual: Inesquecível.
Dançar a meia-noite, a uma, as três e as cinco da manhã: Divinal.


Quinta, 30 Dezembro 2010
23H00: Concerto | Rakia (Porto)
24H30: DJ MATi@S

Sexta, 31 Dezembro 2010
15H00 às 18H00: workshops de música e dança (brevemente...)

23H00: Baile | Martina Quiere Bailar (Espanha)
01H00: Baile | Caravana (Lisboa)

Sábado, 01 Janeiro 2011
15H00 às 18H00: workshops de música e dança (brevemente...)

22H30: Baile | Duo Skeller (Inglaterra; na foto)
24H30: Baile | Karrossel (Porto)

Uma organização: tradballs.pt | rodobalho.com | Centro Norton de Matos

Mais informações: www.passagem-de-ano.net"

17 dezembro, 2010

Cantos na Maré - Amanhã, com Lenine, Guadi Galego, António Zambujo e Aline Frazão


O notável projecto anual Cantos na Maré, desenvolvido pela cantora galega Uxia, tem amanhã mais um novo capítulo no desenvolvimento de um conceito de cultura lusófona abrangente e agregadora de uma língua e uma cultura comuns a vários povos. A seguir, seguem dois textos retirados do site oficial, em bom galego, que é o mesmo que dizer, em excelente português:


UNHA PONTE COA LUSOFONÍA EN CANTOS NA MARÉ

Cantos na Maré, Festival Internacional da Lusofonía chega á súa oitava edición. O Pazo de Cultura de Pontevedra acolle este sábado 18 de decembro ás 21 horas un espectáculo único que volve xuntar algunhas das voces máis interesantes da actualidade nos países lusófonos. De Brasil chega Lenine (na foto), un artista de referencia nas últimas décadas; de Portugal participa António Zambujo, renovador do fado e unha das estrelas do último Womex; de Angola a novísima Aline Frazão; e de Galiza Guadi Galego, unha voz imprescindible no panorama musical do país.

En palabras de Uxía, directora artística do proxecto desde a súa primeira edición, “aínda que esta é unha cita xa consolidada, nós temos sempre o compromiso de sorprender; non é fácil, pero este ano imos logralo”. Uxía cre que se vai producir unha “comunicación especial entre os convidados”, que como cada ano compartirán temas sobre o escenario. No espectáculo haberá espazo para unha sentida homenaxe musical ao escritor portugués José Saramago, ademais dunha atención especial ao concepto de “ponte”.

Cantos na Maré, Festival Internacional da Lusofonía tende pontes entre os países lusófonos na súa oitava edición. O Pazo de Cultura de Pontevedra será o escenario ao que se subirán o sábado 18 de decembro ás 21 horas catro das voces máis persoais da música lusófona actual. O brasileiro Lenine, un dos músicos máis admirados da escena brasileira das últimas décadas, é unha das propostas máis destacadas dunha edición na que tamén participan Guadi Galego, co seu achegamento contemporáneo á música galega de raíz; o portugués António Zambujo, o último renovador do fado; e a angolana Aline Frazão, que será o gran descubrimento desta edición.

Cantos na Maré é unha produción de Nordesía, organizado polo Concello de Pontevedra, co patrocinio da Axencia Galega das Industrias Culturais e a colaboración de Caixanova, o Instituto Camões e Ponte… nas Ondas!. A nova edición presentouse este domingo en Pontevedra, no marco do Culturgal, Feira das Industrias Culturais. Na presentación participaron Lola Dopico, concelleira de Cultura de Pontevedra; José Carlos F. Fasero, director de Agadic; Quique Costas, director de Nordesía; e Uxía, directora artística de Cantos na Maré, que pechou o acto interpretando tres temas acompañado do músico brasileiro Sérgio Tannus.

O espectáculo desenvolverase baixo a dirección artística de Uxía e a dirección musical de Paulo Borges. “En Cantos na Maré sempre logramos que sexa unha noite máxica, e cremos que esta nova edición no vai frustrar esa espectativa”, sinalou Uxía. Animou ao público a acudir e divertirse, citando a Emma Goldman: “Se não posso dançar não é minha revolução”. A edición deste ano tamén renderá tributo ao escritor José Saramago. Lola Dopico destacou que “o carácter diferenciador márcao esa lingua común que fai de lazo sensitivo” e engadiu que Cantos na Maré e “un referente tanto na súa calidade artística como na súa capacidade de xerar novos proxectos”.

Quique Costas, que abriu a presentación lembrando a Francisco Fernández del Riego, explicou que o evento debe ser “un punto de encontro para crear conciencia da lusofonía, non só como espazo cultural senón como mercado de intercambio das nosas culturas”. Nese sentido destacou que este ano Cantos na Maré recupera o encontro profesional, como un punto de coñecemento e intercambio entre axentes culturais de Brasil, Portugal, Francia, Alemaña e Polonia especializados en músicas lusófonas. Fernández Fasero salientou a aposta de Agadic “por fortalecer estes encontros empresariais dos que poden saír novas actuacións e proxectos.

As entradas están á venda na web de Servinova. Tedes toda a información de Cantos na Maré e dos músicos participantes en www.cantosnamare.org"

15 dezembro, 2010

Colectânea de Textos no jornal "i" - XXI


Cinco canções no Natal 2009
Publicado em 17 de Dezembro de 2009

Não são propriamente canções de Natal tal como as conhecemos, mas como não passam nas rádios e vão, quase de certeza e injustamente, passar ao lado da fama que merecem, aqui ficam cinco sugestões de temas portugueses recentes para ouvir numa consoada mais consolada: "Tango do Vilão Rufia", tema gingão do grupo portuense As Três Marias (com vozes de Cristina Bacelar e do convidado Sérgio Castro, dos Trabalhadores do Comércio), para dançar e sorrir enquanto o peru cozinha - do álbum "Quase a Primeira Vez". "Os Loucos Estão Certos", dos Diabo na Cruz, para fazer um eventual coro gospel iconoclasta enquanto se ouve a frase "Na igreja de S. Torpes hoje há bacanal" - do álbum "Virou". A lindíssima caixinha-de-música pop, juvenil e semi-africana que é "Mariazinha Luz", de Margarida Pinto (dos Coldfinger, aqui a solo) e, esta sim, com uma citação natalícia óbvia ("brilha, brilha lá no Céu, a estrelinha que nasceu") - do EP "A Aprendizagem de...". Já na voz da luso-cabo-verdiana Danae (na foto), "Bu Rosto" é uma morna nada tradicional, para ouvir quando a consoada já chegou aos doces, e que faz a ponte entre este ritmo de Cabo Verde, o jazz, os blues e algo de absolutamente etéreo e indizível - do álbum "Cafuca". Finalmente, a divertidíssima "Kit de Prestidigitação", de B Fachada, é perfeita para a altura em que se abrem as prendas porque é de prendas que a canção fala... embora sejam aquelas (incluindo velhos LPs do Zeca) que se "herdam" nos divórcios! - do álbum "B Fachada".





Porque é que os protestantes cantam tanto?
Publicado em 24 de Dezembro de 2009

Fui viver para o Barreiro quando tinha quatro anos. O primeiro amigo que lá tive chama-se Jorge Samuel e a sua família é protestante, mais especificamente pentecostal. Eu era miúdo do outro lado, dos católicos e - apesar de o Barreiro ter tido padres bastante progressistas (do padre Fanhais, cantor!, ao saudoso padre Sobral) -, havia uma coisa que me fazia espécie: os meus vizinhos passavam boa parte do dia a cantar. Hinos, salmos, espirituais, etc. Bastante novo, o Jorge aprendeu a tocar guitarra e, se bem me lembro, órgão. Só muitos anos depois percebi a importância que o gospel e os espirituais negros tiveram no desenvolvimento de várias correntes protestantes dos Estados Unidos, passando ainda pelos hinos das lutas pelos Direitos Civis, e a sua transmissão a outras igrejas evangélicas em todo o mundo, sem esquecer que alguns dos maiores cantores e guitarristas de blues eram também pregadores ou pastores (o grande Reverendo Gary Davis, por exemplo, era pastor baptista). Tudo isto para falar, mais uma vez, da trupe da Flor Caveira - e da razão por que dali, do seio dos protestantes, sai tanta música e tão boa. E com uma fé, uma ironia, uma verve, um sentido crítico, uma lucidez e até uma certa iconoclastia que só ficam bem a artistas e bandas de cristãos... mas que também vêm do punk roque. E agora o lead, virado ao contrário: oiça-se com urgência o fabuloso primeiro álbum-síntese de Samuel Úria: "Nem Lhe Tocava". Está lá isto tudo, resumido.




O Balanço (possível) do ano musical português
Publicado em 31 de Dezembro de 2009

Em tempo de balanços, esta coluna semanal que dá conta do que se vai passando na música portuguesa - pelo menos daquela que o seu autor conhece ou mais aprecia - não foge à tradição, e também aqui deixa a lista dos melhores (e de um dos piores) momentos do ano. Canção Mais Surpreendente do Ano: a versão de "Júlia Florista" por Dulce Pontes, pelo seu tio rebaptizada "Júlia Galdéria" e incluída no álbum "Encontros". Melhor Canção do Ano Mesmo: "Mariazinha Luz", de Margarida Pinto (na foto), do EP "A Aprendizagem de Margarida Pinto". Melhor Versão de Um Êxito Obscuro da Década de 60 do Ano: "A Borracha do Rocha", pelo Real Combo Lisbonense. Álbum mais Surpreendente do Ano: "Luminismo", de Ricardo Rocha, com um CD de originais dele (e versões de temas de Artur e Carlos Paredes e de Pedro Caldeira Cabral) para guitarra portuguesa e outro com peças suas para piano. Editora do Ano: a Flor Caveira e a Mbari, ex-aequo, com lançamentos de excelentes discos (às vezes com artistas comuns) dos Diabo na Cruz, B Fachada, Samuel Úria, João Coração, Norberto Lobo e do já referido Ricardo Rocha. Banda mais Popular do Ano ainda sem Disco Editado: Roda de Choro de Lisboa. Canção Que já Não Há Pachorra para Ouvir Mais Este Ano (e Nos Próximos): "Gaivota", de Amália Rodrigues, pelo projecto Amália Hoje, que tornou uma canção simples, sentida e acústica num fogo-de-artifício de estúdio e em que aquilo que no peito "bateria" será mesmo mais uma caixa-de-ritmos.

12 dezembro, 2010

"Contexto & Significado" - Agora nas FNACs e no Braço de Prata


Depois da festa de lançamento, o fim-de-semana passado em Águeda, de "Contexto & Significado" -- o livro de António Pires e o filme de Tiago Pereira dedicados ao 15º aniversário da d'Orfeu --, a mesma obra-dupla começa hoje a ser apresentada noutras cidades do país. Calendário das apresentações:

12 de Dezembro
FNAC Vasco da Gama, Lisboa | 17h00
Com António Pires, Tiago Pereira e Sara Vidal


17 de Dezembro
Fábrica do Braço de Prata | 22h00
Com António Pires, Tiago Pereira e Luís Fernandes (segue-se baile/concerto com os Toques do Caramulo)

16 de Janeiro
FNAC de Matosinhos | 17h00
Com António Pires e Luís Fernandes

29 de Janeiro
FNAC de Coimbra | 17h00
FNAC de Leiria | 21h30
Com António Pires e Luís Fernandes

30 de Janeiro
FNAC de Viseu | 17h00
Com António Pires e Luís Fernandes

(Na foto, de Mário Abreu: o momento do discurso da Prof. Odete Ferreira, durante o lançamento de "Contexto & Significado", no CEFAS, Águeda)

10 dezembro, 2010

Ricardo Rocha - Um Prémio e... Um Tributo


A notícia já tem umas semanas, mas serve de mote possível ao que vem a seguir: Ricardo Rocha foi o vencedor do Prémio Carlos Paredes 2010, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, pelo seu último álbum, "Luminismo". Um prémio mais que apropriado e que me serve de justificação para recuperar aqui a crítica a esse disco e a entrevista que fiz com Ricardo Rocha a propósito deste álbum desviante, revolucionário e, por isso mesmo, absolutamente sedutor. Os textos originais foram publicados na revista "Time Out".


Ricardo Rocha
"Luminismo"
Mbari Música

Num ano (2009) de excelente produção discográfica portuguesa, o prémio de álbum mais surpreendente (e, de certa forma, também o mais marado) de todos vai, sem dúvida, para Ricardo Rocha. Mestre, embora relutante, da guitarra portuguesa, Ricardo Rocha editou o histórico "Voluptuária" em 2003, seguindo-se "Tributo à Guitarra Portuguesa" – em que visita os grandes guitarristas do fado de Lisboa. Agora, no duplo-álbum "Luminismo" faz os seus originais viajarem pelo fado, a folk livre à maneira de John Fahey/Norberto Lobo ou o serialismo e apresenta versões pessoais de temas de Carlos Paredes (oiça-se “Canto do Trabalho” em speed-metal!), Artur Paredes e Pedro Caldeira Cabral. O segundo CD, ainda mais surpreendente!, são temas dele compostos para... piano, interpretados por Ingeborg Baldaszt. *****


Entrevista
Eu Tenho Dois Amores...

Que em nada são iguais: um é a guitarra portuguesa mas é o piano que amo mais. Nesta conversa com António Pires, Ricardo Rocha assume a bigamia.

A letra da célebre canção de Marco Paulo, embora aparentemente desajustada neste contexto, pode aplicar-se na perfeição a Ricardo Rocha, um génio da guitarra portuguesa mas igualmente perdido de amores pelo piano. No seu novo álbum, "Luminismo", o CD1 inclui originais e versões de temas de Artur Paredes, Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral, interpretadas por ele na guitarra portuguesa, enquanto o CD2 inclui peças para piano compostas por ele e tocadas por Ingeborg Baldaszti.

Há um pequeno pormenor neste novo álbum, "Luminismo", que não existe nos outros dois que gravaste, "Voluptuária" e "Tributo à Guitarra Portuguesa": ouve-se a tua respiração, como se ouvia a respiração do Carlos Paredes nos discos dele.

E também se ouve a minha voz (como acontecia com o pianista Glenn Gould).

Mas isso leva-me a uma questão de que falaste há alguns anos noutra entrevista: a dificuldade que é, para ti, tocar guitarra portuguesa.

Sim, continua a ser doloroso. E quanto mais dificuldade técnica tiver a peça, mais esforço físico está implícito.

No "Voluptuária" tinhas, para além de inúmeros originais, versões de Carlos Paredes e Pedro Caldeira Cabral. Neste repetes estes dois nomes mas também tens um tema de Artur Paredes (pai de Carlos Paredes).

Fiz uma adaptação – não gosto da palavra “arranjo” - de uma peça dele, “Passatempo”, que é muito bonita e que é fantástica para abordar a solo dentro de um esquema muito clássico, o que é interessante.

A referência a estes três nomes – os Paredes e Caldeira Cabral – leva-nos a outra questão inevitável: há pouquíssimos compositores para guitarra portuguesa a solo. São eles e poucos mais e, numa geração muito mais nova, existes tu. Achas que há preguiça ou falta de vontade dos outros guitarristas?

Não, não acho que seja preguiça ou falta de vontade. A guitarra está é tão associada a um género musical específico, o fado, que não são duas ou três pessoas que a conseguem resgatar ao seu papel de instrumento de acompanhamento (da voz). Eu sozinho não consigo. O Carlos Paredes não conseguiu, o Pedro não conseguiu, eu não irei conseguir...

Mas isso já aconteceu noutros géneros musicais: o bandoneón foi resgatado ao tango, a kora está agora a ser assumida como um instrumento solista...

Mas o bandoneón teve o Piazzolla, com uma projecção internacional fortíssima... Em Portugal, a guitarra portuguesa só há poucos anos entrou no meio académico, em alguns Conservatórios. Estas iniciativas são saudáveis. E talvez, por causa disso, daqui por dez, quinze anos, poderá vir a dar frutos e possamos vir a ter solistas e compositores para guitarra portuguesa.

Falando dos teus temas originais no novo disco, aquilo que sinto é que, embora havendo aqui e ali umas alusões ao fado, há ali muitas outras coisas: o serialismo, a música minimal-repetitiva, a influência da guitarra clássica aplicada à free-folk...

Não acho que aquilo que faço seja original. Acho é que se está a ouvir pela primeira vez uma guitarra portuguesa fora do contexto que é esperado. A surpresa para as pessoas é “estou a ouvir uma música que reconheço mas os sons são emitidos por um instrumento diferente daqueles a que estou habituado”. E de fado não tem nada. Só, talvez, por ser o instrumento que é. Uma coisa de que tenho a certeza é a de que, se não tocasse piano – e toco mal piano -, e se não conhecesse o seu reportório, não comporia para guitarra portuguesa como componho. A minha visão e abordagem racional da música, vinda do piano, é muitas vezes transposta para a guitarra. Adoro o piano.

Concordarias comigo se dissesse que a guitarra portuguesa é a tua mulher e o piano é a tua amante?

(risos) Essa é uma visão engraçada. Mas, sim, pode ser encarado dessa forma. E isto, com o máximo respeito para as mulheres.

Este álbum é duplo e, surpreendentemente, o segundo CD tem peças tuas compostas para piano. Foi uma maneira de mostrar que há vários Ricardos Rocha no Ricardo Rocha?

Não. E quase aconteceu por acaso. Fui convidado para tocar num programa, extraordinário, do António Victorino d'Almeida que passou há dois anos na televisão mas que ninguém viu – aquilo era transmitido às duas da manhã! E nesse programa conheci a Ingeborg, que é uma pianista absolutamente genial. Isso inspirou-me a compor algumas novas peças a pensar nela como intérprete, às quais juntei três que já tinha composto antes. Na editora, quando ouviram o piano, perguntaram-me se era eu a tocar. Eu? Quem me dera tocar assim!

09 dezembro, 2010

Festival GEADA - Pela Terceira Vez a Derreter o Gelo


Vem aí mais um GEADA e, para ajudar a derreter o gelo ou o caramelo, o melhor é ler o comunicado oficial:

«Decorrerá de 28 a 30 de Dezembro, o "GEADA 2010 - III Festival de Cultura Tradicional das Terras de Miranda", uma organização dos Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro e da Associação Recreativa da Juventude Mirandesa.

Nesta 3ª edição, prometemos guiar os visitantes numa pequena viagem pelas tradições de inverno do planalto mirandês, ao som de alguns dos melhores grupos de música tradicional do nosso país. Galandum Galundaina, Sebastião Antunes, Karrossel (na foto), Ogham, Uxu Kalhus e Roncos do Diabo são os destaques do GEADA 2010.

Em Paralelo decorrerão diversas actividades como: a "Mirarte - III Exposição Artística da Juventude Mirandesa, arruadas, uma volta pelas adegas típicas, palestras, oficinas de danças tradicionais, oficinas de pauliteiros, oficinas de escrita e oralidade de língua mirandesa.

Programa:
Dia 28 – VOLTA às ADEGAS
14h00 – Arruada
16h00 – Inauguração da “MIRARTE – Exposição Artística da Juventude Mirandesa”
22h00 – VOLTA às ADEGAS
00h00 – Gaitas à Solta


Dia 29
14h00 - Arruada

15h00 - Língua Mirandesa: oficina de escrita e de oralidade, com Alfredo Cameirão
17h00 – Oficina de Danças Mirandesas, Susana Ruano
18h00 – Oficina de Danças Europeias, Diana Azevedo
22h00- Baile Tradicional
Las Çarandas
SEBASTIÃO ANTUNES

KARROSSEL
GALANDUM GALUNDAINA
LSD
Dia 30
14h00 - Arruada

15h00 - Perspectivas actuais e futuras da música mirandesa, com Mário Correia
16h00 – Da língua à música tradicional Mirandesa, com Domingos Raposo
17h00 – Oficina de Pauliteiros
22h00 - Baile Tradicional
Coro Infantil de Miranda do Douro
OGHAM
UXU KALHUS
RONCOS DO DIABO


Animação Permante: IPUM, Pauliteiros da Cidade de Miranda do Douro e Mirandanças


Mais informações:

http://festivalgeada.blogspot.com»

30 novembro, 2010

Mais Cinco Mergulhos na Música Cabo-Verdiana


Novamente recuperados do "acervo" de textos escritos há vários meses para a Time Out, aqui deixo críticas a discos de Cesária Évora, Bau, Vasco Martins, Mário Lúcio e Carmen Souza (na foto, de Patrícia Pascal), e ainda uma entrevista com esta magnífica cantora radicada em Londres. Com todos eles a provar, se tal fosse preciso, como são diversos os caminhos da música de Cabo Verde.



Cesária Évora
"Nha Sentimento"
Lusáfrica/Tumbao

No limiar dos 70 anos de idade, Cesária Évora aparece neste "Nha Sentimento" renascida – e, se calhar, “renascer” é a palavra correcta se pensarmos que sofreu um AVC antes de iniciar as gravações do álbum - e com o grão da sua voz num pico elevadíssimo! Com canções escritas, quase todas, por Manuel de Novas (recentemente falecido) e Teófilo Chantre, "Nha Sentimento" mostra a voz de Cesária a voar livremente sobre dançantes coladeiras - que estão aqui em maioria - infectadas pelo samba e por ritmos cubanos, para além de algumas belíssimas mornas que contam com um ás de trunfo: uma orquestra de cordas egípcia, fazendo a ponte entre a música cabo-verdiana e a música árabe. E curiosamente (ou talvez não), uma delas, “Vento de Sueste” chega, via instrumentos árabes, ao... fado. *****



Bau
"Café Musique"
Lusáfrica/Tumbao


Bau (pseudónimo de Rufino Almeida) é um dos mais importantes, versáteis e talentosos músicos cabo-verdianos. Multi-instrumentista, brilhante no violino, na guitarra e no cavaquinho, Bau já foi o director musical de Cesária Évora durante alguns anos e a sua música foi usada em coreografias de Pina Bausch e filmes de Pedro Almodovar. E, agora, edita esta colectânea que é bem o espelho de uma carreira coerentíssima em que a sua música, sempre instrumental, faz a ponte entre a música cabo-verdiana e outras músicas – a mazurka do norte da Europa (“Mazurka”), os Andes (“Blimundo”), o flamenco (“Ilha Azul”) ou, muitas vezes, os fados que se escondem nas mornas e vice- versa (p. ex., “Som di Nha Esperança” e “Pescador”). Para provar que não há só boas vozes em Cabo Verde. ****



Vasco Martins
"Li Sin"
Lusáfrica/Tumbao

Começa a ouvir-se o novo álbum do músico e compositor Vasco Martins e quase que duvidamos que este disco saia de uma editora de world music, mesmo que essa editora seja a prestigiadíssima Lusáfrica (Cesária Évora and so on, passe o anglicismo). Preconceito? É, pois! É que "Li Sin" bem poderia sair de uma Deutsche Grammophon (clássica, pois) ou de uma ENJA (jazz sofisticado, pois)... Mas, avança-se na audição do disco e percebe-se mais uma vez que a música de Vasco Martins (ele que tem sangue misto, luso e cabo-verdiano) quebra todos os preconceitos e avança, firme, na criação de um corpus sinfónico – digamos assim, por facilidade – que deve tudo ao sal, ao fogo e a todos os santos que fazem de Cabo Verde uma paisagem (musical, cultural e humana) única. Belíssimo! ****

Mário Lúcio
"Kreol"
Lusáfrica/Tumbao

Fundador dos Simentera, poeta e político – e por isso mesmo – com uma voz activa na realidade cabo-verdiana, o cantor e compositor Mário Lúcio foi também deputado, membro do governo (na área da cultura) e embaixador do governo de Cabo Verde. Mas a música, no que tem de (en)canto e paixão, sempre foi o seu natural amor primeiro. Já foi assim em "Mar e Luz" (trocadilho fonético com o seu nome), em "Badyo" e, ainda mais, neste "Kreol", onde Mário Lúcio reinventa o perdido conceito de balada (em quase todo o mundo a balada é uma lamechice pegada, nele é todo um novo género musical a descobrir!) e assina duetos memoráveis e históricos com o maliano Toumani Diabaté, os portugueses Pedro Jóia e Teresa Salgueiro, o brasileiro Milton Nascimento ou o norte-americano Harry Belafonte. Maravilha! *****



Carmen Souza
"Protegid"
Galileo

É um prazer enorme verificar como a nova geração de cantoras cabo-verdianas – e refiro-me aqui às mais conhecidas, Sara Tavares, Lura, Mayra Andrade e Carmen Souza – está, cada vez mais, a abrir caminhos novos e muito diferentes para a música das ilhas. No caso de Carmen, a opção –- coerente e absolutamente consistente -– é, na maior parte das vezes, levar as mornas, as coladeiras, os funanás ou as mazurkas para o jazz (norte ou latino-americano – não por acaso, Omar Sosa é um dos convidados de honra), através da sua voz originalíssima e da instrumentação – vf., por exemplo, na surpreendente versão de “Sodade”. Mas também há experiências ainda mais radicais como o arrepiante “Mara Marga”, com uma dupla palestiniana presente neste tema: Adel Salameh (oud) e a cantora Naziha Azzouz. ****


Sob o Foco
Carmen Souza

Com canções que viajam livremente entre Cabo Verde, o jazz e outros mundos, Carmen Souza é uma das vozes mais originais da nova música cabo-verdiana. Em conversa com António Pires, ela fala do novo álbum e dos concertos que aí vêm.

Como é que te situas, musicalmente, entre a tradição cabo-verdiana e as outras músicas que fazem a tua música?

Há géneros que são absolutamente tradicionais, como a morna – ou o fado -, mas há sempre uma vontade de evoluir. No meu caso, nesse evoluir não se altera nada da estrutura, da essência, mas evolui-se para algo de diferente. Neste disco, "Protegid", transformei uma morna num jazz-swing e, para quem esteja a ouvir de forma desatenta, até é capaz de pensar “isto é um standard de jazz”...

Estás a falar da tua versão do “Sodade”.

Sim, mas quem ouvir detalhadamente, aquilo que está por trás é uma morna. Tento sempre dar o meu cunho pessoal àquilo que eu faço e aí o jazz é uma presença real. No caso do “Sodade”, estava com o pianista Victor Zamora e quisemos dar a esta morna algo de Brad Mehldau ou de Bill Evans...

Tu escreves as letras, és cantora, tocas guitarra e órgão. É importante juntares isso tudo?

Eu quero ser sempre muito verdadeira, muito fiel àquilo que eu sou. E as minhas letras reflectem sempre o que se passa comigo e à minha volta. O título do álbum tem a ver com isso: eu sinto-me protegida e sinto o dever de proteger, alertando as pessoas e levando-lhes uma mensagem de paz. E não me vejo como cantora, mas como músico, porque a minha voz é muito mais instrumental do que cantada. Na minha voz sou muito mais influenciada por solos de piano ou de trompete do que por formas de cantar.

A quase totalidade da música, por sua vez, é composta pelo Theo Pas'cal...

Sim, estamos os dois em Londres há dez anos a desenvolver este projecto, ele é fundamental para isto tudo e já não conseguimos deixar de estar nos projectos um do outro. Ele é do Algarve e, para o futuro próximo, estamos a pensar num trabalho em que juntamos o sul de Portugal, o norte de África e Cabo Verde.

Neste disco já tens, pelo menos, um oud (alaúde árabe)...

Sim, tocado pelo Adel Salameh, que é palestiniano. Acredito que há ligações entre a música cabo-verdiana e a música árabe, assim como já me disseram que os primeiros escravos que chegaram a Cuba eram cabo-verdianos e daí haver semelhanças entre a música cubana e a música cabo-verdiana.

Aliás, para além do Victor Zamora, que é cubano, no disco também tens a presença do grande pianista Omar Sosa...

Sim, e de muitos outros músicos, como o acordeonista francês Marc Berthoumieux, os Tora Tora Big Band e tantos outros que fomos encontrando pelo caminho.

15 novembro, 2010

Clube Conguito no Festival Lisboa Mistura


O Clube Conguito (DJs António Pires e Rodrigo Madeira; na foto, de António Pedro Ferreira) encerra as festividades da edição 2010 do Festival Lisboa Mistura, uma organização da Associação Sons da Lusofonia, que decorre no Teatro Municipal de S.Luiz, em Lisboa, de 3 a 5 de Dezembro. Um Festival que, ao longo desses três dias, mostra muitas e desvairadas músicas de todo o mundo! Mais informações pertinentes:

"Lisboa Mistura é um espaço de encontro, no centro da cidade, entre pessoas e entre artes e entre artistas de várias proveniências geoculturais. Lisboa Mistura músicas, dança, vídeo, poesia: artistas contadores de estórias em formatos variados. Lisboa Mistura pessoas e convida-as a conhecer outros convidados, pessoas de bairros tão próximos dos nossos e que muitas vezes não "vemos". Mistura jovens que vêm em autocarros e de outras formas menos volumosas, amigos, familiares e apoiantes de Associações dos bairros a que estes pertencem. É a O.P.A. a Lisboa! E a alegria de nos reconhecermos em cada rosto que olha a partilha, o ser intercultural.

Lisboa Mistura é o 1º evento intercultural organizado pelos lisboetas de todos os lugares. Esta 5ª edição é feita para ouvir em silêncio os sons do Mundo, para dançar livremente os sons da Terra, para nos envolvermos em causas de todos, para nos divertirmos e para pensar no futuro enquanto comunidade. É mesmo um espaço de debate e celebração. E convidamos todos, não a irem aos bairros, mas a virem ao centro de Lisboa assistir a uma grande peça, com dramaturgias variadas, em que "Nós" somos os protagonistas.

Na Sala Principal teremos desde o lançamento em Lisboa do novo álbum dos Terrakota (um êxito antes de começar), passando pela voz quente da brasileira Adriana Miki, da "pop" tribal do senegalês Nuru Kane, a subtileza melódica e rítmica do guineense Kimi Djabaté, até ao Lisnave que este ano junta no mesmo palco a nova música portuguesa com a experiência dos Dead Combo & Bateria Siamesa dos Paus, Galandum Galundaina (prémio 2010 Megafone), Diabo na Cruz e as imagens de Tiago Pereira e António Jorge Gonçalves, até ao "Void" de Clara Andermat.

Mas a Mistura continua e intercala os concertos do Jardim de Inverno com as participações dos novos projectos de produtores e DJ´s como Bordell, Octapush, Clube Conguito, Dj Dinis ou a alegria do Anónima Nuvolari que abrem a festa no primeiro dia. E claro teremos uma mostra muito séria e animada do que é feito pelos jovens dos bairros de Lisboa, a Grande claro, que vêm ao Teatro São Luiz com as suas mensagens e urgências. Para que todos possam participar organizámos uma Festa Intercultural com grupos mais ou menos amadores compostos por chineses, indianos, africanos, portugueses, brasileiros, ucranianos...onde nos vamos conhecer melhor."

14 novembro, 2010

Nobody's Bizness... ou, agora, Um Assunto de Todos Nós (a começar por mim)


Está quase: no dia 18 de Novembro, quinta-feira próxima, os Nobody's Bizness (aqui representados numa foto-montagem do camarada Mário Pires) mostram ao vivo no Maxime, em Lisboa, o seu segundo álbum, "It's Everybody's Bizness Now". Já a seguir segue o texto de apresentação do álbum, assinado por, hummmm... António Pires, fã confesso e incondicional da banda!

Nobody's Bizness
It's Everybody's Bizness Now

A História dos blues está feita de encruzilhadas. A lendária encruzilhada na quinta Dockery onde Robert Johnson terá vendido a alma ao diabo em troca de se tornar o melhor guitarrista de sempre. A escolha que foi apresentada pelo destino a T-Bone Walker, John Lee Hooker, B.B. King ou Muddy Waters: continuo a tocar guitarra acústica ou passo para a eléctrica e a minha música chega assim a mais pessoas (e, quem sabe, até mudo o futuro de toda a música popular)? A decisão de vida que Ali Farka Touré teve que tomar: serei para sempre taxista ou mecânico de automóveis ou tenho como missão vir a ser músico profissional e lançar as pontes definitivas entre os blues e a música da África Ocidental? Ou a encruzilhada que Eric Clapton encontrou quando percebeu que a sua vida não podia continuar dependente do álcool e das drogas duras: deixo esta merda ou serei para sempre conhecido como “o drogado que deixou o filho cair da janela e morrer”?

Ao fim de alguns anos a cantar e a tocar as canções dos bluesmen que mais amam e admiram, as questões que os Nobody's Bizness encontraram na sua encruzilhada pessoal não foram tão dramáticas nem tão românticas ou bizarras quanto estas, mas foram, mesmo assim, difíceis de resolver: continuaremos para sempre a fazer versões ou vamos em frente, pomos a cabeça no cepo e mostramos o que valemos também enquanto autores? E foi isso mesmo que fizeram. Ou, pelo menos, a cinquenta por cento. Depois de, em 2005, terem editado um álbum ao vivo gravado na Capela da Misericórdia, em Sines, onde interpretavam temas de Robert Johnson, Willie Dixon ou Lonnie Chatmon, os Nobody's Bizness têm agora um álbum em que seis das doze canções têm assinatura do grupo (com a preciosa ajuda de João MacDonald nas letras de uma delas). E saíram-se brilhantemente da tarefa! Nos seus originais estão toda a paixão e ensinamentos que sempre retiraram dos blues, mas também o amor que têm pela country, pelo bluegrass, pela folk norte-americana (ou por um eventual eixo canadiano que une Leonard Cohen, Neil Young e Joni Mitchell), pelo jazz e por uma visão aberta das músicas do mundo. E, ao lado de várias versões de Willie Dixon (ainda e sempre) ou William Broonzy, aqui estão meia dúzia de originais que põem desde já os Nobody's Bizness num elevadíssimo patamar criativo.

Uma outra encruzilhada, digamos paralela (se é que se pode falar de paralelas quando também se fala de encruzilhadas – mas essa é uma boa questão para os geómetros resolverem), que os Nobody's Bizness encontraram foi a opção de gravar, ou não, em estúdio. Tendo o palco como território natural para a sua música, como é que o brilho da voz de Petra, a magia da harmónica e a profundidade de voz de Catman, as finíssimas filigranas das guitarras e banjos dos irmãos Ferreira e os tapetes voadores de Luís Oliveira e Isaac Achega poderiam ser recriados – porque é de recriar que aqui se trata – em estúdio? A questão era complicada mas resolveu-se de forma fácil: tendo como aliado Paulo Miranda, que com os Nobody's Bizness co-produziu o disco no seu AMP Studio, em Viana do Castelo, o grupo lisboeta rapidamente descobriu no estúdio minhoto uma extensão da sua sala de ensaios onde todos se sentiram confortáveis e a sua música pôde fluir livremente. E, se o primeiro álbum circulou por um grupo restrito de fãs fiéis e habituais, os Nobody's Bizness são agora everybody's bizness, para ouvir de ouvidos limpos e alma aberta.

António Pires
Outubro de 2010


A banda:

Petra Pais – voz
Catman – voz, harmónica e teclas
Luís Ferreira – guitarras, dobro e banjo
Pedro Ferreira – guitarras, banjo e coros
Luís Oliveira – baixo e coros
Isaac Achega – bateria e percussões

Produção:

Nobody's Bizness e Paulo Miranda

Convidados:

Francisco Silva (Old Jerusalem) e Ana Figueiras (Unplayable Sofa Guitar) nos coros
de “”When monday comes”

Alinhamento:

1 – I want a little boy (Murray Mercher/Billy Moll)
2 – Don't go no further (Willie Dixon)
3 – Time waster (Nobody's Bizness)
4 – When monday comes (Nobody's Bizness)
5 – Nobody (no guidance song) (Nobody's Bizness)
6 – This pain in my heart (Willie Dixon)
7 – When the lights go out (Willie Dixon)
8 – Roll mamma (Nobody's Bizness)
9 – Blues for the month of june (João MacDonald/Nobody's Bizness)
10 – The blues don't care (Gwill Owen/Charles Olney)
11 – Black, brown & white (William Broonzy)
12 – Show's up! (Nobody's Bizness)

12 novembro, 2010

Os Bombos... da Festa de Natal


Mas que bela ideia: a Associação Tocá Rufar vai pegar nos seus bombos e dar o mais inesperado dos concertos de Natal, dia 25 de Dezembro. A explicação já a seguir:

"DO CÉU CAIU UM BOMBO



Se este é o título de um conto de Natal, ora conte-se: era uma vez o mais belo concerto de Natal...

Do céu caiu um bombo. E o bombo disse-nos: os bombos não se cansam!

Assim, quais bombos, recusámo-nos a ficar à espera do que nos viessem pôr no sapatinho. Nós temos tudo, já! E temos de sobra – compreendemos. Podemos espalhar noites felizes e noites de paz, e não deixaremos, mesmo, que nos impeçam de dar, com toda a força, tudo o que temos para dar. Seja!

Este Natal o Tocá Rufar oferece o mais belo concerto de Natal, pela maior orquestra de percussão tradicional portuguesa, feito a custo de ânimo e afinco, com todo o esmero; porque os bombos não se cansam.

O concerto será onde tu estiveres, onde nós estivermos todos. Nós somos os bombos, a música, a arte, o Natal, além de qualquer preço; nós somos Portugal inteiro.

Dia 25 de Dezembro às 17h, do Rossio ao Terreiro do Paço, por Portugal inteiro."

11 novembro, 2010

"Contexto & Significado" - Os 15 Anos da d'Orfeu Celebrados em Filme e em Livro!


Confesso que estou a babar-me um bocadinho! Aqui vai o press-release que dá conta do lançamento conjunto de "Significado - A Música Portuguesa se Gostasse Dela Própria", de Tiago Pereira, e "Contexto - 15 Anos, 15 Histórias que Fazem a História da d'Orfeu", de... António Pires:

"Aos quinze anos da d’Orfeu, um livro e um filme!
CONTEXTO & SIGNIFICADO
de António Pires e Tiago Pereira


A d’Orfeu Associação Cultural completa 15 anos de intensa actividade no próximo dia 4 de Dezembro, data em que lançará o livro+filme “Contexto & Significado”, resultado de uma encomenda da associação de Águeda ao jornalista António Pires e ao realizador Tiago Pereira. A sessão terá lugar no Auditório do CEFAS, em Águeda, a 4 de Dezembro próximo pelas 17h30.

Com os 15 anos d’Orfeu como mote, é criativamente que a Associação celebra a efeméride, com uma obra dupla: "Contexto - 15 Anos, 15 Histórias que Fazem a História da d'Orfeu", o livro escrito por António Pires e que nos transporta até às origens de uma associação artística que abriu novos caminhos culturais a Águeda, e "Significado - A música portuguesa se gostasse dela própria", realizado por Tiago Pereira, um testemunho visual de contextualização contemporânea das tradições musicais que, mais que enaltecimento gratuito, antes faz o ponto de equilíbrio entre a história da própria associação e o retrato da sua posição, hoje, no meio cultural. É questionando o global que nos damos conta que também a d'Orfeu, nos últimos 15 anos, já escreveu história. “Contexto & Significado” é também a primeira edição da d’Eurídice, o novo selo editorial da d’Orfeu Associação Cultural.


O programa integral de comemoração dos 15 anos da d’Orfeu inclui ainda, a 3 de Dezembro pelas 19 horas na Biblioteca Municipal Manuel Alegre, a inauguração de uma Exposição da história gráfica da associação (centenas de cartazes de eventos desde 1995) e um convívio popular no Espaço d’Orfeu, na noite de sábado 4 Dezembro, aberto a toda a comunidade. Muito mais informações estão disponíveis no sítio http://www.dorfeu.pt/, no blogue http://dorfeu.blogspot.com/ e nos perfis d’Orfeu nas redes sociais."

Trailer de “Significado”: http://www.vimeo.com/8818449

05 novembro, 2010

Roda de Choro de Lisboa - Conexões Luso-Brasileiras


Quando se sabe que o álbum de estreia da Roda de Choro de Lisboa, "Lusofolias" , tem edição marcada para Dezembro de 2010, aqui fica a entrevista que fiz a este grupo publicada originalmente na "Time Out Lisboa" em Agosto de 2009. É para dançar enquanto se lê.

Roda de Choro de Lisboa
Os Músicos que Mais Trabalham na Cidade

O local é um típico clube de bairro popular lisboeta: tem uma bar “atascado”, uma sala de bilhares - numa das mesas está uma viola adormecida; na outra dois pintas esgrimem os tacos - com ditos sábios nas paredes («Deus dá as nozes, mas não as parte») e, atracção maior dessa noite de terça-feira, um salão de baile onde já e amontoam, à porta, dezenas de tias e betos, muitos freaks e estudantes universitários em férias e ainda uma quantidade apreciável de turistas, mais turistas no feminino do que no masculino, diga-se. O local chama-se Lusitano Clube de Alfama e a razão para tamanha animação é mais um concerto/baile abrilhantado pela Roda de Choro de Lisboa, grupo ainda sem disco gravado mas com nome feito em centenas de concertos e no passa-palavra dos muitíssimos fãs angariados nos últimos anos.

O concerto/baile da Roda de Choro de Lisboa dá razão à sua fama: a meio caminho entre o ambiente gaiato e apaixonado das danças tradicionais europeias e o calor e a sensualidade das aulas de kizomba, os casais que dançam esta música deixam-se levar por uma festa que é muito maior e mais alegre do que aquilo que o nome do género que dançam, o choro, poderia fazer supor. O guitarrista Nuno Gamboa (que toca um violão de... sete cordas) explica que o choro nasceu no Brasil, “por volta de 1850, quando houve uma explosão de músicas populares por todo o mundo: o jazz nos Estados Unidos mas também, no espaço da lusofonia, a morna em Cabo Verde, o fado em Lisboa e o chorinho no Rio de Janeiro. Estas três têm todas elementos em comum: a modinha e o lundum. No caso do chorinho, tem o lundum e a modinha mais as danças de salão europeias: mazurkas, polkas, valsas... “. Gamboa acrescenta um pormenor histórico importante que ajuda a compreender estes cruzamentos musicais no universo lusófono: “Quando o rei português chega ao Rio de Janeiro para aí estabelecer a corte (NR: D.João VI partiu para o Brasil em Novembro de 1807, fugindo das tropas de Napoleão), não foi só ele que chegou ao Brasil: foram 15 mil pessoas, orquestras, músicos com instrumentos como o cavaquinho, o violão ou o bandolim...”. Quando se fala de choro, também se fala de chorinho e de chorão. Gamboa explica: “o chorão é o músico que toca choro. E o choro foi chamado durante muitos anos, popularmente, chorinho. Mas os intelectuais brasileiros defenderam a utilização de choro e não chorinho: os americanos não chamam jazzinho ao jazz ou rock'n'rollinho ao rock'n'roll”. Fica assim explicado.

A Roda de Choro de Lisboa é formada por cinco músicos, três portugueses – Nuno Gamboa, Luís Bastos (clarinete) e Carlos “Bisnaga” Lopes no acordeão – e dois brasileiros – Múcio Sá no bandolim e cavaquinho e Alexandre “Barriga” Santos nas percussões. “A Roda de Choro de Lisboa tem uma pré-história, por volta do ano 2000, quando alguns músicos se reuniram no espaço Fala-Só para tocar chorinhos”, conta Gamboa. “Foi aí que eu e o Luís Bastos tivemos contacto com o chorinho. Posteriormente, a Roda de Choro de Lisboa, já com a formação actual, estabeleceu-se no Sítio do Cefalópede, em 2005”. Já com centenas de concertos no seu currículo (o ano passado deram para cima de 120 em Lisboa, mas também em muitos outros locais), a Roda de Choro de Lisboa faz justiça à palavra Choro do seu nome mas também à palavra Lisboa, pelo lado português que a sua música contém. Luís Bastos, o clarinetista, sublinha que, embora tendo como base o choro, o grupo integra nesse género «ritmos portugueses como o malhão, o fandango, o fado, o corridinho, para termos um produto diferente do choro de S.Paulo ou do Rio de Janeiro”. O resultado dessa fusão poderá ser ouvido dentro de alguns meses no primeiro álbum da Roda (já em gravação) ou, se não se quiser esperar, todas as terças-feiras no Lusitano ou, no início de Setembro, no Palco 1º de Maio da Festa do Avante.

31 outubro, 2010

Colectânea de Textos no jornal «i» - XX


As múltiplas sementes dos Ornatos
Publicado em 26 de Novembro de 2009

Há dez anos foi editado o segundo e último álbum de uma das melhores e mais originais bandas portuguesas de sempre, os Ornatos Violeta. Chamava-se "O Monstro Precisa de Amigos" e sucedia ao disco de estreia, "Cão!" (1997). Um terceiro álbum - "Monte Elvis" ou "Rói, Rói, Galinha Roy" - esteve em pré-produção mas nunca viu a luz do dia, devido a divergências que levaram à implosão do grupo em 2002. A notícia do fim dos Ornatos foi recebida com imensa tristeza pelos seus fãs, um grupo extenso que ainda hoje se mantém activo - através de um fórum no site de Manel Cruz - e que justifica plenamente, entre outras coisas, a actual rodagem de um documentário dedicado à banda, "Monstruário", realizado por Gonçalo Castro. Mas o que os seus fãs não sabiam, não poderiam saber, era que alguns dos membros dos Ornatos Violeta viriam a ter carreiras a solo com música tão boa ou melhor que a dos Ornatos. E se alguns deles - Elísio Donas (ex-Per7ume e Homem Musculoso), Peixe (ex-Pluto, agora Zelig) e Kinorm (ex-Homem Musculoso, agora Plus Ultra) - têm tido carreiras algo discretas, já Manel Cruz (ex-Pluto e Supernada; agora Foge Foge Bandido) e Nuno Prata - cujo segundo álbum a solo, "Deve Haver", está prestes a ser editado - têm mantido bem viva a herança dos Ornatos Violeta. A herança transcende os próprios músicos da banda e é uma influência fundamental em grupos novos, exteriores, como os Virgem Suta, Diabo na Cruz, doismileoito, Oioai ou Suite Zero.




Lula Pena - É urgente um disco novo!
Publicado em 03 de Dezembro de 2009

Há mistérios assim. Lula Pena já não é propriamente um segredo absoluto para muita gente - nos últimos anos, em Lisboa, actuou pelo menos na ZDB (a solo e com Norberto Lobo), no Maxime, no Castelo de S. Jorge (com Richard Galliano) e neste último fim- -de-semana, no Lisboa Mistura (S. Luiz), acompanhada pelos Tigrala - mas não há meio de sair um novo álbum que suceda ao pioneiro "Phados", editado em 1998, já lá vão onze anos. Conta a lenda que um segundo disco, "Profissão de Fé", esteve quase a ser lançado, mas que vicissitudes várias impediram que tal acontecesse. E vê-la agora em palco com os Tigrala - os guitarristas Norberto Lobo e Guilherme Canhão e o percussionista mexicano Ian Carlo Mendoza -, que são os cúmplices perfeitos para a sua música cada vez mais elaborada, ainda aumenta mais a vontade, a necessidade, de um álbum novo. Esclareça-se: uma elaboração que nunca é sinónimo de música complexa ou difícil, mas da crescente inteligência com que Lula mistura, num mesmo tema, encontrando-lhe os elos perdidos, fados e mornas, música tradicional portuguesa e muitas outras músicas, tradicionais ou modernas. Ouvir a "Senhora do Almortão", da Beira Baixa, cantada em sussurro por Lula, com a sua guitarra a soar cada vez melhor e mais presente, ao lado de Lobo no bouzouki, Canhão na outra guitarra e Mendoza no vibrafone, foi dos momentos musicais mais arrepiantes que presenciei nos últimos anos. Gostava tanto de a (re)ouvir em disco!



Indie-rock muito mais indie do que rock
Publicado em 10 de Dezembro de 2009

Nesta coluna já se glorificaram bastantes nomes de vários géneros musicais extra-rock e alguns dos vários rocks que hoje se fazem em Portugal. Hoje fala-se aqui de quatro novos projectos que estão no rock - seja lá isso o que ainda for -, mas que se servem dele apenas como trampolim para uma música única, original, indie no sentido de independente (de rótulos e de rocks). Noiserv (na foto) é o projecto pessoal de David Santos -- Kids on Holidays; You Can't Win, Charlie Brown --, onde canta e toca todos os instrumentos, incluindo caixinhas-de-música e instrumentos de brincar, à maneira de Pascal Comelade. Outras referências possíveis são Sufjan Stevens, The The ou Beirut, mas isto não chega para descrever as canções únicas de Noiserv. Igualmente originais, mas numa linha mais experimental, os portuenses :papercutz (aka Bruno Miguel) dissecam e intersectam as electrónicas com instrumentos acústicos e a excelente voz de Marcela Freitas - a influência de Ryuichi Sakamoto ("Forbidden Colours") é aqui mais uma bênção. Abençoada é também a música de Tiago Sousa, pianista que podia bem fazer carreira na música erudita ou no jazz mas que opta por levar ambas as linguagens para um território híbrido, minimal e aventureiro. Minta & The Brook Trout é o novo projecto de Francisca Cortesão (ex-Casino), que nesta nova etapa - ao lado de Manuel Dórdio, Mariana Ricardo e José Vilão - mostra como um pop juvenil se pode transformar em música absolutamente maravilhosa feita de canções luminosas e sublimes.

28 outubro, 2010

O Mali Continua Cheio de Música!


Antes de mais, um pedido de desculpas aos fiéis leitores deste blog e que continuam a encher a "caixa" de seguidores do Raízes e Antenas: o excesso de trabalho das últimas semanas impediu-me, mais uma vez, de ter uma participação regular -- ou mais ou menos irregular que fosse! - neste blog. Para me compensar e, eventualmente, compensar os leitores, aqui ficam algumas críticas a vários discos de artistas malianos (e ainda uma excelente colectânea) editados nos últimos meses e originalmente publicados na "Time Out". E, a somar, ainda o álbum do projecto AfroCubism, isto é, aquilo que teria sido o Buena Vista Social Club se não tivesse sido só feito com cubanos (e norte-americanos)... São vários bombonzinhos de regresso!


Ali Farka Touré & Toumani Diabaté
"Ali & Toumani"
World Circuit/Megamúsica

Quando saiu o belíssimo "In the Heart of The Moon" – o primeiro álbum de duetos entre o guitarrista Ali Farka Touré e o mestre da kora Toumani Diabaté (na foto), dois dos nomes maiores da música do Mali nas últimas décadas -, sabia-se que tinham ficado “na gaveta” mais uns quantos temas gravados, não nas mesmas sessões (as primeiras foram em Bamako; estas em Londres), mas com um formato semelhante. Não se sabia é que os temas seriam assim tão bons! Embora perca para o primeiro em frescura, novidade e até em algum défice instrumental, "Ali & Toumani" é mais um testemunho exemplar da arte e do génio dos dois músicos, aqui acompanhados pelo baixista cubano Orlando “Cachaíto” Lopez (entretanto já falecido, tal como Ali) e Vieux Farka Touré (filho de Ali), entre outros. (****)


Oumou Sangaré
"Seya"
World Circuit/Megamúsica

Ao fim de seis anos sem discos de originais no mercado, a maior diva da música do Mali, Oumou Sangaré, está de volta com um álbum absolutamente extraordinário, "Seya" (que significa "alegria"), onde a sua música atinge um cume de excelência e luminosidade absolutos. E, embora nele participem algumas luminárias da música actual (malianos, nigerianos, norte-americanos) como Djelimady Tounkara, Cheick Tidiane Seck, Bassekou Kouyaté, Pee Wee Ellis ou Tony Allen é a voz e arte de Oumou que aqui falam mais alto. É um álbum socialmente interventivo - os casamentos forçados de adolescentes, por exemplo -, coerentíssimo no seu desenho musical (mesmo quando intervêm alguns dos músicos citados) e quase sempre acústico, com os instrumentos tradicionais a sobreporem-se facilmente aos outros. E a voz, a voz! (*****)



Amadou & Mariam
"Welcome To Mali"
Because/Megamúsica

O trabalho de produção de Manu Chao para o duo maliano Amadou & Mariam (no álbum "Dimanche à Bamako") teve uma coisa boa e uma coisa má (e que são, na prática, a mesma coisa): a coisa boa foi ter aberto o som do duo a outras músicas, mais globais, mais "world"; a coisa má foi a colagem de muitos dos seus temas a uma sonoridade demasiado próxima da de Manu Chao. Anos depois, neste novo "Welcome To Mali", a sombra de Manu Chao ainda anda por cá - e bem! - mas a música de Amadou & Mariam navega igualmente por outras paragens, a começar logo pelo belíssimo tema semi-progressivo semi-psicadélico (a fazer lembrar os Air) que é "Sabali", produzido por Damon Albarn. E o resto do álbum é variadíssimo, passando por canções profundamente "africanas" mas enfeitadas pelo rock, o funk, o disco-sound, o hip-hop (com o somali K'Naan) ou o afro-beat (com Keziah Jones). (****)

Vários
"One Day On Radio Mali"
Syllart/Lusáfrica/Tumbao

Se, desde há muitos anos, a música do Mali é sobejamente conhecida em todo o mundo – via nomes como Oumou Sangaré, Amadou & Mariam, Tinariwen, Salif Keita, Rokia Traoré ou o falecido Ali Farka Touré -, a verdade é que há uma riquíssima “pré-história” da música maliana que antecede o “boom” da world em meados dos anos 80. E esta colectânea – lançada pela importantíssima editora africana Syllart, do produtor Ibrahim Sylla - mostra exactamente a música de grupos seminais do Mali dos anos 60 e 70 como Les Ambassadeurs du Motel (que estabeleceram Mory Kanté e Salif Keita), Rail Band (por onde passaram também Keita, Kanté e Kante Manfila ), Super Djata de Bamako, Orchestre Regional de Mopti, National Badema ou a Orchestre National de Gao (com um tema que fala da guerra colonial na Guiné-Bissau). (*****)

Donso
"Donso"
Comet Records/Massala

A fórmula já não é nova: fundir as músicas tradicionais do Mali com as electricidades e/ou as electrónicas, os rocks e os blues: pense-se em Ali Farka Touré, nos Tinariwen, em Amadou & Mariam, em Issa Bagayogo e em muitos outros... Agora, os Donso fazem uma viagem semelhante partindo do Mali (mas também da música tuaregue e do gnawa marroquino) para chegar ao psicadelismo, ao transe, a territórios próximos do metal, a baladas ”azuladas”... Nos Donso convivem músicos franceses com músicos malianos (incluindo o vocalista Gedeon Papa Diarra), e ainda têm como convidados dois importantes nomes da música maliana: Ballaké Sissoko na kora e Cheick Thidiane Seck nas teclas. Donso significa “caçador” em língua bambara e bem se pode dizer que, com este álbum, têm aqui uma boa quantidade de troféus no cinto. (****)


Ballaké Sissoko/Vincent Segal
"Chamber Music"
No Format/Massala

Nem sempre corre bem a tentativa de encaixar instrumentos tradicionais, nomeadamente africanos, num formato de música erudita e em diálogo com instrumentos preferencialmente usados nesse género. E isso até já aconteceu com o maliano Ballaké Sissoko, quando pôs a sua kora (harpa mandinga) ao serviço do piano do italiano Ludovico Einaudi. Mas, no caso deste álbum apropriadamente chamado "Chamber Music" (música de câmara), é o oposto que se passa: com composições maioritariamente assinadas por Sissoko, a sua kora brilha a grande altura sobre os belíssimos “tapetes” proporcionados pelo violoncelo do francês Vincent Segal (que já colaborou com vários nomes da world music e faz parte dos Bumcello). O álbum é inventivo, variado e sempre... africano. (****)

Idrissa Soumaoro
"Djitoumou"
Syllart/Lusáfrica/Tumbao

Já com mais de 60 anos de idade, o cantor, guitarrista e intérprete de kamele n'goni Idrissa Soumaoro edita agora o seu segundo álbum no circuito internacional – depois de "Kôtè" (2003) – e neste novo disco continua a mostrar, em “peças” distintas do puzzle que é este "Djitoumou", o seu amor pela música tradicional de Wassoulou (a região do Mali de onde é originário), os blues, a rumba congolesa, a música árabe, a country e até o flamenco. Produzido por François Bréant (o mesmo dos Kekele ou Salif Keita), o álbum tem como um dos momentos mais altos e brilhantes o tema “Bérèbérè”, que conta com a participação especial do entretanto falecido Ali Farka Touré. Personagem arredia da ribalta da cena musical, a música rara de Soumaoro é, também por isso, uma autêntica bênção. (****)


Bako Dagnon
"Sidiba"
Syllart/Lusáfrica/Tumbao

Quando a cantora maliana Bako Dagnon foi, finalmente, revelada ao mundo através do álbum "Titati", editado em 2007 e depois de várias cassetes lançadas no seu país ao longo de vários anos, viu-se nela o terceiro lado de um triângulo sagrado de vozes femininas (ao lado de Oumou Sangaré e de Rokia Traoré). Era justo: a assunção de Bako como uma griot no feminino, a sua música muitas vezes em estado puro, bruto, e uma voz original fizeram dela uma das grandes “descobertas” world desse ano. Neste segundo álbum internacional, "Sidiba", Bako confirma isso tudo mas perdeu-se a novidade e alguma da frescura do anterior. Mas não seria nada mau poder vê-la ao vivo um dia destes. (***)


AfroCubism
"AfroCubism"
World Circuit/Megamúsica

Quando, em 1996, Ry Cooder e Nick Gold foram para Cuba gravar o "Buena Vista Social Club", a ideia base do disco era juntar músicos cubanos com músicos do Mali, devido às óbvias pontes musicais entre Havana e o continente africano. Mas, como é sabido, isso não se concretizou por falta de vistos dos africanos. Agora, o projecto inicial foi retomado e Gold (sem Cooder) é o produtor deste "AfroCubism" que reúne Kasse Mady Diabaté, Lasana Diabaté, Toumani Diabaté, Bassekou Kouyate e Djelimady Tounkara com Eliades Ochoa e o Grupo Patria. E, apesar de o resultado nem sempre corresponder às expectativas, há aqui alguns belos nacos de música. Momentos altos: “Djelimady Rumba” e o quase fado/quase morna “Benséma”. (****)

22 setembro, 2010

Tocar de Ouvido - Está Quase Aí!


A edição 2010 do Tocar de Ouvido decorre de 5 a 10 de Outubro, tendo como destaques os concertos, oficinas e colóquios do Raaga Trio (grupo que junta músicos do Mali - nomeadamente Andra Kouyaté, irmão de Bassekou e o inventor do n'goni baixo -, Itália e Suiça; na foto), Quatro ao Sul e Galandum Galundaina, para além de uma residência de músicos orientada por Paulo Pereira e José Mário Branco.

Programa:

"Oficinas de Instrumentos

Flauta de Tamborileiro, Adufe, Canto Polifónico, Cavaquinho, Gaita-de-fole, Composição Modal...há de tudo, para todos.
Dias 7, 8, 9 e 10 de Outubro, em Évora.


Concertos
Quatro ao Sul - Raaga Trio - Galandum Galundaina

Nos dias 7, 8 e 9 de Outubro, no Teatro Garcia de Resende, as noites de Évora vão escaldar com o calor do Mediterrâneo (Quatro ao Sul); África (Raaga Trio) e Planalto Mirandês (Galandum Galundaina). Durante o dia, os músicos darão Oficinas de Instrumentos e Colóquios abertos ao público...


Residência de Músicos

O Tocar de Ouvido quer juntar 10 músicos atrevidos e inovadores para reinventarem em conjunto a música popular portuguesa, de 5 a 8 de Outubro, em Évora.
Orientadores: José Mário Branco e Paulo Pereira.
Inscrições até 27 de Setembro.

Mais informações, aqui.

11 setembro, 2010

Colectânea de Textos no jornal "i" (IX)


Os Pós-Tradicionalistas (Parte 327)
por António Pires, Publicado em 5 de Novembro de 2009

Já por várias vezes, nesta coluna, se referiram variadíssimos exemplos de bandas e artistas que estão a pegar na nossa música tradicional (e noutras à volta) para com ela criarem uma nova música. E, desta vez, vou falar de cinco outras propostas, todas elas com discos fresquíssimos no mercado. Partindo da ideia-base "Se Carlos Paredes não é pós-rock, então o que andamos aqui a fazer?", os Laia (na foto) atiram-se no seu disco "Viva Jesus e mais alguém" ao pós-rock (dos Cult of Luna aos Tortoise ou aos Godspeed You Black Emperor!), mas com uma guitarra portuguesa, adufes e bombos a sublinharem, bem, a portugalidade da sua música. Por sua vez, os respeitadíssimos Danças Ocultas regressam, em muitos temas do seu novo álbum "Tarab", a sonoridades, ambientes e paisagens mais próximas da tradição portuguesa (embora sem nunca esquecer, em nenhuma nota das quatro concertinas, outras paragens do mundo). Desta vez sem a "muleta" dos convidados exteriores ao grupo, os Danças Ocultas têm aqui o seu melhor trabalho de sempre! Finalmente, referência breve a três outros álbuns: a surpreendente e muito bem conseguida primeira incursão a solo de Sebastião Antunes (Quadrilha), "Cá Dentro"; o novo álbum dos transgressores marafados Marenostrum, "Arraia Miúda", que ainda é melhor que o primeiro; e o hiper-dançável "In Temporal", dos Monte Lunai (danças tradicionais europeias, vivas e actuais).



Valete, Bento e... os outros
por António Pires, Publicado em 12 de Novembro de 2009

Sou benfiquista (mais daqueles "doentes pelo Benfica" que daqueles "fanáticos pelo Benfica"), mas tenho imenso respeito pelo Paulo Bento, tanto como treinador como enquanto pessoa, e não me importaria nada de o ver treinar o meu clube daqui por muitos anos (depois de o Jorge Jesus ter ganho tantos troféus nacionais e internacionais que o Real Madrid e o Manchester estejam dispostos a dar por ele uma enorme pipa de massa ao SLB). Mesmo assim, achei imensa graça ao tema "Baza Correr com o Paulo Bento", do rapper Valete (na foto), que há mais de um ano já pedia a demissão do treinador do Sporting. Curiosamente, trata-se de um caso raríssimo de contestação, pelo menos activa e concretizada, do meio musical português a algo relativo ao mundo do futebol. Mais normal é a glorificação de alguns dos seus jogadores: desde o longínquo "Quem Tem Eusébio", de Artur Ribeiro, aos mais recentes "Não me Mintas", em que Rui Veloso (com letra de Carlos Tê) canta "voar como o Jardel entre os centrais", e "Adivinha Quem Voltou", dos Da Weasel, em que Pacman diz "finto como o João Pinto, marco golo na baliza". E, mais ainda, a glorificação dos clubes através de hinos originais ou adaptados: dos clássicos "Ser Benfiquista" (Luís Piçarra) e "Marcha Sporting" (Maria José Valério) a "Os Filhos da Nação", dos Quinta do Bill (adaptado para "Os Filhos do Dragão" e tornando-se assim o hino oficioso do FCP), "Sou Benfica", dos UHF, ou "Leão de Fogo" (hino do 100.o aniversário do SCP), dos Delfins.



O que aprendo a dar aulas
por António Pires, Publicado em 19 de Novembro de 2009

Desde há seis anos, tenho o privilégio de dar aulas de História da Indústria Discográfica no curso de Produção e Marketing Musical, na Restart. Nos primeiros anos, a maioria dos alunos era formada por pessoas que, apesar de amarem profundamente a música, não cantavam nem tocavam instrumentos, querendo usar o curso como trampolim - mais do que legítimo - para se integrarem no meio editorial ou, em alternativa, na produção de espectáculos. Mas, nos últimos anos, a tendência inverteu-se e verifiquei que cada vez mais eram os músicos e cantores que, descrentes de uma indústria discográfica em crise, procuravam este curso para assim gerirem melhor as suas próprias carreiras musicais, criando editoras próprias ou aprendendo os mecanismos necessários para as suas edições de autor. Este ano, fez-se o pleno: os 13 alunos da turma são todos músicos e/ou cantores, DJ ou já músicos/editores. E com um leque de referências vastíssimo: de um guitarrista de um grupo pimba alentejano a um DJ e produtor de tecno, de músicos punk hardcore e doom metal a uma cantora de formação clássica e outra que trabalha com o Filipe La Féria desde os 12 anos, de dois cabo-verdianos que injectam outras músicas nas kizombas, mornas e coladeiras a um outro que faz rock e música para crianças. E, com todos os meus alunos - vendo a sua alegria, fé e orgulho no que fazem -, aprendo que a indústria até pode estar em crise mas que a música nunca estará.

08 setembro, 2010

OuTonalidades e O Gesto Orelhudo para a Rentrée!


Dois festivais organizados pela D'Orfeu, de Águeda, vão marcar a reentrée cultural nesta viragem do Verão para o Outono. O comunicado oficial e muitos links úteis:

"Está lançada a programação dos dois eventos d’Orfeu que marcam, anualmente, a chegada do Outono. Enquanto o “OuTonalidades” percorre um alargado roteiro luso-galaico de música ao vivo durante quase 3 meses, já o 9º Festival “O Gesto Orelhudo” concentra atenções em Águeda no início de Outubro, para trazer a palco as mais originais propostas internacionais de musicomédia. No ano em que cumpre 15 anos de actividade, a d’Orfeu consolida as suas propostas de programação e celebra a maturidade do seu projecto cultural com o público! Em Águeda ou desde Águeda.

14º OuTonalidades – circuito português de música ao vivo
22 Setembro a 18 Dezembro, Portugal e Galiza

O circuito volta a unir Portugal e Galiza, através de uma alargada rede de espaços que abrem portas à música que se faz, em cada caso, além do Minho. De 22 de Setembro a 18 de Dezembro, durante 13 fins-de-semana, o programa apresenta 70 concertos de 25 grupos em 22 espaços de música ao vivo, constituindo-se como a maior rede de música ao vivo da Península Ibérica. Em território português, o OuTonalidades alarga a sua rede que, nesta edição, se estende a 15 espaços de música ao vivo por todo o país, em 11 distritos, literalmente de norte a sul do país. Este é também o terceiro ano da cooperação entre o OuTonalidades e Rede Galega de Música ao Vivo, circuitos congéneres dos dois lados da fronteira, proporcionando agora a presença de 5 grupos portugueses na Galiza e 5 grupos galegos em Portugal, num total de 36 concertos em regime de intercâmbio luso-galaico, de géneros que vão do jazz ao tradicional, do rock ao fado, do ska aos blues, do experimental às músicas do mundo. A festa do OuTonalidades 2010 está servida!

http://www.myspace.com/outonalidades2010
http://issuu.com/dorfeu/docs/libreto_outonalidades2010
http://www.facebook.com/outonalidades


9º Festival “O Gesto Orelhudo”
1 a 8 Outubro 2010, Águeda

Águeda volta a ser palco de referência da musicomédia internacional, com a 9ª edição do Festival “O Gesto Orelhudo”, o mais referente dos eventos d'Orfeu. Consolidando-se como uma iniciativa ímpar no panorama cultural português, a programação contempla uma diversidade performativa de música, teatro, clown, humor e dança, reunindo grupos e artistas de Portugal, Espanha, Itália, Bélgica, Brasil e Austrália. A decorrer diariamente na Tenda do Espaço d'Orfeu, este ano são destaques orelhudos as raízes culturais da música tradicional castelhana de Mayalde e das canções ribeirinhas aguedenses no “Povo Que Lavas no Rio Águeda”, a versatilidade dos portugueses Clarinetes AdLibitum (na foto), a excentricidade criativa de Linsey Pollack, o regresso das acrobacias musicais dos musiclowns italianos Teatro Necessario, a hilariante musicomédia dos brasileiros Tangos & Tragédias, o humor percussivo dos espanhóis Yllana, a ironia de movimento do galego Quique Péon e a expressividade cómica do belga Elliot.

http://issuu.com/dorfeu/docs/programa_fogo2010
http://www.facebook.com/dorfeu.associacao.cultural"

25 agosto, 2010

A Temporada de Setembro: Arraiais do Mundo e Chocalhos


Setembro começa logo com a Festa do "Avante!", mas há mais música de norte a sul: no Arraiais do Mundo, que decorre de 3 a 5 de Setembro em Tavira, eno Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância, que ocupa a aldeia de Alpedrinha, Fundão, entre 17 e 19 de Setembro (info via Crónicas da Terra):

ARRAIAIS DO MUNDO:

"Uma residência artística, concertos, bailes e oficinas - a dança é o pretexto para pôr em contacto Serranos com músicos estrangeiros e portugueses, estudiosos e um público cada vez mais alargado.
O Fole encontra-se em todos os seus estados no Festival Arraiais do Mundo: Concertina, Acordeão ou Bandoneão - venha descobrir as suas diferentes sonoridades!

A concertina, instrumento que chegou a Portugal antes do acordeão, está presente com o grupo lisboeta Fol&Ar.
O acordeão tem dois representantes no grupo franco-português Extravanca (na foto): o João Frade e o Guy Giuliano, os quais apresentam, com Pascal Seixas, Romain Cuoq, Anthony Jambon e Simon Valmort, o resultado da Residência Artística que teve lugar em Cachopo (Tavira). Esta Residência visa a recuperação do repertório tradicional algarvio, num formato contemporâneo.

O Bandoneão é um instrumento de origem Alemã, embora hoje em dia mais associado à Argentina, em particular ao Tango. Está presente em Tavira com o grupo Tangomanso Orquesta Inestable.

E do Baile Mandado ao Tango, é só um passo de Estravanca: esta luta coreografada transforma-se em Setembro num grande Arraial.



PROGRAMA (ENTRADA LIVRE)
Sexta-feira 3 de Setembro
18h30 – Oficina de Danças Tradicionais Europeias com Alexandre Matias, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto - Baile com Fol & Ar, Praça da República – Tavira

Sábado 4 de Setembro
10h30 – Oficina de Cante do Algarve com Os Velhos da Torre, Palácio da Galeria – Tavira (Inscrição na Sexta feira anterior)
15h00 – O Património Cultural Imaterial: Encontro para a constituição de um Arquivo de Dança com Lia Marchi, Sede Clube de Tavira – Tavira (mais info)
18h30 – Oficina de Danças do Algarve com Alexandre Matias, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto - Baile com Extravanca, Praça da República – Tavira

Domingo 5 de Setembro
18h30 – Oficina de Tango com L.E Tango Juan + Graciana, Jardim do Coreto – Tavira
22h00 – Concerto – Baile com Tangomanso Orquesta Inestable, Praça da República – Tavira

RESIDENCIA ARTISTICA: EXTRAVANCA! NA SERRA DO CALDEIRÃO22 de Agosto – 3 de Setembro, Cachopo – TaviraJuntar músicos com formação e experiência em jazz e interesse pelas músicas tradicionais e músicas do mundo é uma boa aposta para trabalhar o repertório algarvio, já rico em influências cosmopolitas. E nada melhor que ficar durante duas semanas na Serra do Caldeirão para juntar ideias, descobrir sonoridades, reconstruir melodias e compor novas músicas.Com a experiência do contrabaixista Pascal Seixas (Dites 34, Minuit Guibolles, Travudia) em colaborações artísticas internacionais e a paixão do acordeonista João Frade pela sua região, o resultado promete muitas cores e surpresas. Diálogos diabólicos com o outro acordeonista Guy Giuliano, chuva de solos com o guitarrista Anthony Jambon e o saxofonista Romain Cuoq, falta só o baterista Simon Valmort para fazer caminhar esta residência até o mar.Estreia no dia 4 de Setembro as 22 horas na Praça da Republica, Tavira.
RESIDÊNCIA ARTISTICA: EXTRAVANCA! NA SERRA DO CALDEIRÃO
22 de Agosto – 3 de Setembro, Cachopo – Tavira
Juntar músicos com formação e experiência em jazz e interesse pelas músicas tradicionais e músicas do mundo é uma boa aposta para trabalhar o repertório algarvio, já rico em influências cosmopolitas. E nada melhor que ficar durante duas semanas na Serra do Caldeirão para juntar ideias, descobrir sonoridades, reconstruir melodias e compor novas músicas.
Com a experiência do contrabaixista Pascal Seixas (Dites 34, Minuit Guibolles, Travudia) em colaborações artísticas internacionais e a paixão do acordeonista João Frade pela sua região, o resultado promete muitas cores e surpresas. Diálogos diabólicos com o outro acordeonista Guy Giuliano, chuva de solos com o guitarrista Anthony Jambon e o saxofonista Romain Cuoq, falta só o baterista Simon Valmort para fazer caminhar esta residência até o mar.
Estreia no dia 4 de Setembro as 22 horas na Praça da Republica, Tavira."


CHOCALHOS:


"O Bairro Alto da Serra da Gardunha, vulgo Alpedrinha (no Concelho do Fundão) recebe de 17 a 19 de Setembro mais uma edição da sempre muito animada festa da transumância chocalheira. Velha Gaiteira e Musicalbi animam as noites nesta edição de 2010 do Chocalhos – Festival dos Caminhos da Transumância. Durante o dia haverá o célebre percurso com ovelhas e com os Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, do Fundão a Alpedrinha.
Programa
17 de Setembro
18h00
Abertura
Arruada com os Bombos Zambumbas
Ruas de Alpedrinha
21H00
Oficina do Feltro -Mostra do Ciclo da Lã (a cardação, fiação e a feltragem)
Instalação de Feltro “Fios Puxados”
Local: Casa do Pátio
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA (Fundão )
Local: Largo de Santo António
Demonstração da Feitura da Travia e do Queijo pela Associação de Queijeiros da Soalheira
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua
Arranca-Telhados
Carriços
Tokavacalhar
Ovelha Negra
Bombos da Junta de Freguesia do Fundão
Bombos da Capinha
Zabumbas
Grupo de Bombos de Alcongosta
Ruas de Alpedrinha
Grupo de Cantares Ponto e Linha
Local: Largo de Santo António
22:30
Musicalbi
Local: Chafariz
00H30
Velha Gaiteira
Local: Chafariz
Dia 18 de Setembro
Abertura
Arruada com os Bombos
Ruas de Alpedrinha
11H00
Oficina do Feltro – Festa da Lã com a Colaboração do grupo feminino de Viana do Alentejo
Local: Casa do Pátio
14H00
Concurso pedagógico do Cão da Serra da Estrela
Local: Largo de Santo António
16H00
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA
Local: Largo de Santo António
16H00 / 21H00
Demonstração da Feitura da Travia e do Queijo pela Associação de Queijeiros da Soalheira
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua
Zigzagaita
Cornes
Carriços
Ovelha Negra
Roncos e Coriscos
Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho:
Grupo de Música Popular As sementinhas do Centro de Dia do Castelejo
Grupo de Bombos do Alcaide
Grupo de Bombos da Barroca
Grupo de Cantares da Escola Secundária do Fundão
Zambumbas
Grupo de Concertinas da Barrenta
Ruas de Alpedrinha
20H30
Concerto: Grupo de Cantares de Alpedrinha
Local: Largo de Santo António
22h00
Concerto: Pedro Mestre e os cardadores
Local: Casa do pátio
23h30
Concerto:“O Romance da Transumância” de Sebastião Antunes
Local: Chafariz
Dia 19 de Setembro
8H00
Percurso com as Ovelhas desde o Fundão e Alpedrinha.
Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
Local:Fundão-Alpedrinha
14h00
Construção de Instrumentos Musicais Pastoris – OCAIA (Fundão).
Local: Largo de Santo António
Animação de Rua Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho
Grupo de Cantares de Santo André
Grupo de Gaita de Beiços da Rapoula
Carriços
Grupo de Concertinas da Barrenta
Grupo de Cantares Nossa Senhora do Mosteiro
Grupo de Cantares da Barroca"