06 julho, 2010

Cacharolete de Discos - Chicha Libre, Hanggai, L'Enfance Rouge e The Ukrainians


Este texto já tem quase um ano de publicação original (na "Time Out Lisboa") em cima, mas é agora aqui recuperado:

Rockers de Todo o Mundo, Uni-vos!

A world music está cheia de rock. E o rock tem cada vez mais world music lá dentro. Os Chicha Libre, Hanggai, L'Enfance Rouge (na foto) e The Ukrainians sabem isto muito bem.

Por coincidência – ou talvez não – todas estas quatro bandas estiveram na edição deste ano do FMM de Sines. E talvez não porque é sabido como o FMM gosta de correr riscos e apostar, muitas vezes, em nomes que só muito vagamente poderão estar encaixados no conceito – e tão alargado que ele é! - de world music. E ainda bem. Um excelente exemplo disto mesmo foi o concerto dos L'Enfance Rouge no palco da praia, que dividiu radicalmente as opiniões: “que horror!”, diziam alguns; “grande banda!”, contrapunham muitos outros. Eu fui daqueles que gostei. Muito. Deles foi agora distribuído em Portugal o álbum “Trapani – Halq Al Waady” (T-Rec/Wallace/Mbari; ****), em que esta trupe formada por italianos, franceses e tunisinos tanto abraça o noise mais extremo quanto as desconstruções harmónicas dos Sonic Youth ou o metal experimental de uns Isis ou Mastodon. E a world music? Está lá, pois: oud, qanún, nay, violinos árabes, bendir e darabuka dão uma trágica/brilhante/épica cor magrebina e mediterrânica a tudo o resto.

Outra incursão brilhante por músicas que não eram “suas” na origem, os norte-americanos Chicha Libre deixaram as suas raízes rock de lado (mas não completamente) para recriarem a chicha, género peruano dos anos 60 que fundia a música andina (pois, mas aqui sem flautas de Pã) com o rock'n'roll. O resultado, bem audível em “Sonido Amazonico” (Crammed Discs/Megamúsica, ****) é um divertimento constante, um baile de aldeia com órgão vintage – Farfisa, Moog... - e guitarra surf, com canções tradicionais andinas ou versões de coisas tão manhosas como o “Popcorn” ou sublimes como a “Gnossienne Nº1”, de Satie (aqui em versão... dançável!).

Do outro lado do mundo, encontraram-se punks de Pequim e músicos da Mongólia – alguns deles também peritos no canto gutural das estepes mongóis (muito semelhante ao canto de Tuva, ali ao lado, na Sibéria). São os fabulosos Hanggai, um bando de chineses dados a conhecer pelo álbum “Introducing Hanggai” (World Music Network/Megamúsica, *****) que tanto cantam – e arranham e assobiam... - sobre o amor como sobre a lenta passagem das estações do ano ou o prazer do álcool (na poguesiana “Drinking Song”).

Finalmente, uma breve passagem pelo álbum de regresso dos históricos Ukrainians, grupo anglo-ucraniano que neste “Diaspora” (Zirka Records/Megamúsica, ****) que teve o seu apogeu durante os anos 80 e que voltam agora para mostrar quem é que, muito antes dos Gogol Bordello, dos Leningrad, dos Nogu Svelo, dos Balkan Beat Box, dos A Hawk and A Hacksaw ou dos Beirut, fazia e faz – e sempre bem! - a ponte entre o rock anglo-saxónico e as músicas do leste europeu. Já tínhamos saudades.

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